Prato Sujo - Como a indústria manipula os alimentos para viciar você! ( PDFDrive )

(Ruy Abreu) #1

não precise. Repare bem da próxima vez em que entrar em um deles. Já viu
relógios nas paredes ou janelas? O tempo lá dentro não passa. A música
ambiente induz as pessoas a diminuir o ritmo. O cheiro de pão ou frango assado,
que muitas vezes vem de sprays, e não da comida, se espalha e instiga a compra,
mesmo que seu objetivo inicial fosse comprar chicória. Os produtos mais básicos
da alimentação, como pão, leite, arroz e feijão, geralmente ficam bem longe da
entrada. Principalmente os perecíveis – carnes, queijos – que costumam estar nos
corredores periféricos e no fundo da loja. Se o lugar for muito grande, eles
podem ser encontrados no centro, separando o setor de alimentos do de produtos
de higiene e limpeza (o que, no fim das contas, significa que ficam no fim da
seção de alimentos). Isso obriga você a percorrer todo o mercado. No meio do
caminho, sempre tem um chocolate e uma lasanha congelada.
Os corredores são compridos e sem acessos no meio para outros corredores.
Ou seja, entrou nele, vai ter de ir até o fim para sair. “Os espaços são
dimensionados de acordo com o fluxo de clientes, para que não tenha
congestionamento. A largura pode ser de dois, três ou quatro carrinhos
emparelhados”, explica o economista Ricardo Pastore, coordenador e professor
do Núcleo de Estudos do Varejo da Escola Superior de Propaganda e Marketing
(ESPM), em São Paulo.
O que importa é que a chance de você olhar para os lados e se encantar com
algum produto de que não precisa é grande. Acontece com todo mundo. Um
caso pessoal: era uma noite de junho e eu estava voltando do trabalho. Parei no
supermercado para comprar um filé de peixe que ia ficar perfeito com uma
saladinha. Mas, para chegar à peixaria, tive de atravessar um corredor com
produtos para festa junina: paçoca, milho para pipoca, péde-moleque, doce de
abóbora em formato de coração, salsicha, maionese e pão de hot dog. Àquela
altura, meu cérebro já tinha se convencido de que cachorro-quente e doces eram
muito mais práticos e tentadores do que salmão com alface. Tanto que nem me
lembrei da peixaria. Voltei dali direto para o caixa.


É comum também que os supermercados tenham quiosques que vendem
lanches e salgados bem no meio da seção de hortifrúti. Mais um teste de
persistência para ver se sua vontade de comer brócolis vence o cheiro de
calabresa com queijo do pastel ao lado. O que costuma acontecer é o seguinte:
você manda ver no pastel e compra brócolis para “comer outro dia”. O
supermercado ganha em dobro e sua geladeira agradece por mais um vegetal que
chega verdinho e apodrece lá dentro. Repare também na parte dos legumes. Bem

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