grantes do ataque ao quartel Monca-
da, em 1953, não eram comunistas,
mas membros da ala jovem do Par-
tido Ortodoxo – uma agremiação
opositora, mais liberal do que qual-
quer outra coisa. Fidel assumiu a
liderança dos ortodoxos, aproveitan-
do o vácuo deixado pelo suicídio do
fundador do partido, Eduardo Chi-
bás. Quando muitos deles decidiram
partir para o exílio no México, Fidel
cultivou entre o grupo a única ideo-
logia comum a todos: o nacionalis-
mo, insuf lado pela retórica român-
tica de José Martí.
Os dois únicos líderes rebeldes
que se definiam como comunistas
àquela altura eram Raúl Castro e Er-
nesto Che Guevara. Eles seguiam a
linha pró-soviética (da qual Che se
afastaria nos anos 1960), mas com
atitudes distintas. Raúl preferia
manter em segredo seu apreço pela
foice e o martelo, enquanto Guevara
não só o alardeava como tentava con-
verter ao marxismo-leninismo qual-
quer um que cruzasse seu caminho.
Falseta histórica
Che era um leitor eclético desde os
tempos de garoto. Sua mãe apresen-
tou-o a escritores que transitavam
por várias “esquerdas”, de Ernest
Hemingway a Jean-Paul Sartre. No
início dos anos 1950, durante as an-
danças pela América Latina, textos
da filósofa polonesa Rosa Luxem-
burgo e do teórico peruano José
Mariátegui ajudaram a consolidar
sua fé no marxismo. Àquela altura,
ele já lia esporadicamente Lênin e
tinha fascínio por Marx – “São
Karl”, como dizia.
Fidel Castro, por sua vez, declara-
va-se anticomunista. “Nossa revolu-
ção não é vermelha, mas verde-oliva
[a cor do uniforme de seus soldados em
Sierra Maestra]”, bravateava o co-
mandante, que se autodenominava
“um humanista acima de tudo”. Seja
como for, Fidel soube juntar várias
nuanças políticas dentro do Movi-
mento 26 de Julho – o grupo revolu-
cionário fundado depois de Moncada
- para levar adiante seu projeto de
poder. Além do mais, ele sabia que a
revolução, em seus primeiros passos,
ainda estaria vulnerável, e só poderia
escapar de retaliações americanas se
qualquer identificação com o comu-
nismo fosse negada.
Era tamanha a aparente modera-
ção de Fidel que não há uma única
proposta comunista nos documentos
firmados por ele entre 1953 e 1959.
Oficialmente, os “barbudos” revolu-
cionários defendiam apenas a volta
da Constituição de 1940 (abandonada
por Batista), reforma agrária, restau-
ração da democracia, combate à cor-
rupção e ao analfabetismo, moder-
nização da indústria e confisco de
terras ocupadas ilegalmente – uma
espécie de “nacionalismo democrá-
tico”, como define o historiador
cubano Rafael Rojas.
Foi esse o programa adotado logo
após a vitória da revolução, em ja-
neiro de 1959. Mas tudo mudou em
1961, quando Fidel resolveu anun-
ciar que sempre fora um legítimo
marxista-leninista. Opositores pas-
saram a ser eliminados e funcioná-
rios públicos que não se declararam
comunistas foram substituídos. O
comandante nacionalizou empresas
estrangeiras e confiscou jornais.
Suprimiu as liberdades de associa-
ção e expressão. E fez de Cuba o sa-
télite caribenho da União Soviética.
O que começou como revolução so-
cial-democrata, para varrer do mapa
um tirano, acabou virando uma di-
tadura socialista.
Ídolo dos
“barbudos”
José Martí foi a
verdadeira inspiração
para os rebeldes
Herói da independência
cubana, José Julián
Martí foi a verdadeira
fonte de inspiração para
Fidel Castro e seu
exército rebelde. Nascido
em Havana, no ano de
1853, desde cedo ele se
rebelou contra o domínio
colonial, a escravidão e a
falta de liberdade na ilha.
Tinha só 16 anos quando
foi preso pela primeira
vez, acusado de trair
a coroa espanhola.
Advogado, jornalista,
poeta e diplomata,
Martí usou todas
as habilidades que
tinha para defender
a “Nossa América”
contra o império.
“Foi fundamental para
Che Guevara e Fidel”,
diz o historiador
argentino Felipe Pigna.
“Ele tinha concepções
revolucionárias
muito avançadas
para um homem
que morreu no final
do século 19.”
AventurAs nA históriA | 11
AH_FDL_4_CBA_Bando_Comunas_1.indd 11 12/2/16 11: