UM BARCO PARA 20 OCUPANTES TRANSPORTANDO
82 GUERRILHEIROS, CONTRATEMPOS NO
DESEMBARQUE E UMA EMBOSCADA DEVASTADORA.
FOI ASSIM QUE A REVOLUÇÃO COMEÇOU
INFERNAL
VIAGEM
TEXTO Mauricio Manuel REPORTAGEM Lilian Hirata
Q
uando Ernesto Che Gue-
vara viu, pela primeira
vez, o barco que o leva-
ria até Cuba, para dar
início à revolução, achou que aquilo
fosse uma piada. O Granma – cor-
ruptela do inglês grandmother, ou
“vovó” – parecia uma lata velha f lu-
tuante. Ou melhor, semif lutuante.
Sim, porque o iate de 19 metros esta-
va submerso até a metade quando
Fidel Castro o descobriu em Tuxpan,
no México, abandonado no Rio Pan-
tepec. Pertencia a um americano,
Robert Bruce Erickson, que achou
estar fazendo um negócio da
China quando o vendeu por
15 mil dólares ao bando de
revolucionários cubanos.
Depois de uma reforma básica, o
Granma até ficou apresentável. Mas
podia levar, no máximo, 20 ocupan-
tes. Os exilados que embarcariam
de volta à ilha, carregando armas,
munição, combustível e mantimen-
tos, eram 82. A conta não fechava de
jeito nenhum, mas Fidel e seus com-
panheiros, depois de meses de trei-
namento e planejamento no exílio,
não viam alternativa. Já estava pas-
sando da hora e era com aquele bar-
co mesmo que a Revolução Cubana
teria de começar.
Quem bancou a compra do Gran-
ma foi um exilado chique: Carlos So-
carrás, o presidente deposto por Ful-
gêncio Batista, em março de 1952.
Socarrás queria voltar à presidência
de Cuba, é óbvio, e achou que poderia
usar os rebeldes para isso.
Fidel agradeceu, nem
quis saber se o
dinheiro era
FOTO SHUTTERSTOCK
26 | AVENTURAS NA HISTÓRIA
REVOLUÇÃO
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