(2017) Aventuras na História 164 - Fidel Castro (Ed. especial)

(AP) #1
FOTOS CONSELHO DE ESTADO CUBANO

Se no gramado, na quadra e no rin-
gue ele se destacava, nas salas de aula
o jovem Fidel chamava atenção pela
prodigiosa memória. De acordo com
um de seus biógrafos, o jornalista Tad
Szulc, sua capacidade de decorar tex-
tos era tão espantosa que, muitas ve-
zes, os colegas de classe divertiam-se
fazendo-lhe perguntas do tipo: “Fidel,
o que está escrito na página 43 do livro
de sociologia?”. Ele não era capaz ape-
nas de decorar capítulos inteiros, li-
nha por linha. Tinha a mania de ar-
rancar e jogar no lixo as páginas lidas.
Não precisava delas, alegava. Poderia
recitar, de cor e salteado, qualquer
trecho que lhe pedissem.

O NOME DO PAI
Não se sabe o que há de exagero, ou
mesmo de mitologia pessoal, nas re-
miniscências de velhos colegas que
dão conta dessa admirável memória.
Aliás, boa parte da vida particular
de Fidel permanece assim, cercada
de fábulas, mistérios e lacunas – obs-
táculos que continuam a desafiar os
biógrafos. Até sua data de nascimen-
to é alvo de controvérsias. Oficial-
mente, ele nasceu no dia 13 de agosto
de 1926, embora conste “1927” numa
primeira certidão.
O pai de Fidel, Angel Castro, foi o
responsável pela alteração no docu-
mento original. Don Angel, como era
conhecido pelos colonos de sua fa-
zenda de cana-de-açúcar, na provín-
cia de Holguín, aumentou a idade do
filho para que pudesse ser matricu-
lado mais cedo na escola secundária.
Fidel adotou o ano de 1926 como data
oficial e terminou por enxergar no
número 26 uma aura de predestina-
ção: aos 26 anos, no dia 26 de julho
de 1953, ele comandaria o ataque ao
quartel Moncada, seu batismo como
revolucionário.

As reais circunstâncias do relacio-
namento entre don Angel e a mãe de
Fidel são outro detalhe que a história
oficial tratou de cercar de reticências.
Sabe-se que Angel Castro foi casado
com uma primeira mulher, a profes-
sora María Argota, com quem teve
dois filhos, Pedro e Lidia (os meios-
irmãos mais velhos de Fidel). Mas
pouco se diz – e menos ainda se es-
creve – sobre essa esposa que o qua-
se cinquentão don Angel trocaria por
uma humilde criada da fazenda, de
apenas 16 anos: Lina Ruz Gonzalez,
mãe de Fidel e mais seis irmãos.
Como já era casado, o pai inicial-
mente não pôde batizar os novos fi-
lhos, nem lhes legar o nome de famí-
lia. O menino Fidel foi registrado
como Fidel Casiano Ruz Gonzalez.
Somente aos 15 anos, quando don
Angel finalmente se divorciou de
Argota, ele passaria a chamar-se Fi-
del Alejandro Castro Ruz, nome que
assinaria para o resto da vida.
Educado na rígida disciplina de
um colégio jesuíta, Fidel entrou na
Universidade de Havana em 1945, na
faculdade de direito. “Era péssimo
estudante, nunca ia às aulas”, confes-
saria ao jornalista espanhol Ignacio
Ramonet, na série de entrevistas que
daria origem ao livro Fidel Castro: Bio-
grafia a Duas Vozes. Àquela altura, a
política estudantil mobilizava as aten-
ções do rapaz, que decidiu se ligar à
ala jovem do Partido Ortodoxo.
Numa época de tensão política, na
qual líderes estudantis andavam com
armas escondidas debaixo das rou-
pas, nasceu uma das idiossincrasias
mais conhecidas de Fidel: a de fazer
longos discursos. Sempre vestido com
um paletó preto, era o orador mais
contundente – e o mais prolixo – entre
os colegas de universidade. Nada, con-
tudo, que se comparasse à falação de

Os irmãos
Castro:
Fidel, Raúl, e
Ramón, em
foto de 1943

Fidel na
escola de
Belén, com
17 anos:
fera do
basquete

8 | AVENTURAS NA HISTÓRIA

PRIMÓRDIOS


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