® Cruzoé 193 [Riva] (2022-01-07)

(EriveltonMoraes) #1

ALEXANDRESOARES SILVA


Um novíssimo (e triste) limite para as


amizades


07.01.2 2


“Se tivesse que escolher entre trair o meu país e trair um amigo”, escreveu


em um ensaio o romancista inglês E.M.Forster, “espero que eu tivesse a


coragem de trair o meu país”.


O ensaio é de 1938. Começa dizendo que aquela época desprezava a
amizade como um luxo burguês, e que havia no ar a expectativa de que
todos se livrassem desse luxo para se dedicarem a alguma grande causa
política. Entre a amizade e uma causa política, no entanto, Forster escolhe


se manter leal à amizade. “Mas provavelmente ninguém vai me pedir para


fazer uma escolha tão difícil”, ele diz lá logo no início do ensaio.


Ele podia ser otimista nesse ponto porque vivia em 1938, uma época em
que, se você estivesse fora de certos países, podia viver e se expressar
com alguma liberdade, e não em 2021, uma época em que não há
nenhum país em que você possa viver ou se expressar com liberdade.



  • Ah é? Mas aqui nessas colunas você não diz tudo que pensa, sem sofrer
    consequência nenhuma?


Não, jamais. Não digo tudo que penso nem para uma samambaia, quanto
mais numa coluna.

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