DEZEMBRO 2021. EXAME. 115
adas. “As exigências têm vindo a subir. As
medidas começaram a ser definidas com
o Acordo de Paris, mas seguiu-se logo o
Green Deal e, mais recentemente, o Fit For
- Cada um mais exigente do que o ante-
rior, o que obrigou a indústria cimentei-
ra a acelerar ainda mais este processo de
descarbonização. Sabemos que temos de ir
por esse caminho. Não há um planeta B”,
salienta Luís Fernandes, CEO da Cimpor e
presidente do conselho executivo da ATIC.
No caso da indústria cimenteira, para
atingir a neutralidade carbónica, ou seja,
ter um balanço equilibrado entre o carbo-
no que se emite e aquele que é capturado,
não basta fazer a transição para as fontes
renováveis de energia. O uso exclusivo de
eletricidade verde apenas resolve 40% das
emissões de CO 2 do setor. Os outros 60% são
provenientes da queima do calcário, proces-
so de onde resulta o clínquer, a matéria-pri-
ma a partir da qual se fabrica o cimento. E é
aí que reside o grande desafio para atingir a
tão famigerada meta carbónica.
“Hoje temos, em vários países, projetos-
-piloto com tecnologias disruptivas para re-
duzir o uso do calcário e, dessa forma, bai-
xar as emissões. Em Portugal, com estas
novas técnicas, já conseguimos reduzir 15%
de emissões por cada tonelada de cimento
produzido”, diz o CEO da Secil.
Luís Fernandes garante que, ao longo
dos próximos anos, irão ser lançados cada
vez mais produtos com menos CO 2 associ-
ado. Mas considera que deveria ser “criada
uma política de incentivos” de forma a fo-
mentar o seu uso nesta fase inicial, tal como
aconteceu com a introdução das energias
renováveis ou com os carros elétricos.
“A construção é um setor muito tradici-
onal e vai ser muito difícil mudar a mentali-
dade das pessoas. Dificilmente irão mudar
só porque é melhor para o ambiente. E esse
incentivo poderia ser o fator-chave para fa-
zer avançar essa transição”, acrescenta Ot-
mar Hubscher
Reduzir o carbono, armazenar o que se
emite e conseguir injetá-lo outra vez em no-
vos produtos é o grande objetivo atual da
indústria. “É um caminho de longo prazo e
muito dispendioso, mas que tem de ser feito
até conseguirmos achar o método mais efi-
ciente. Atualmente já conseguimos injetar
carbono no betão fresco, reduzindo o uso de
cimento”, explica Luís Fernandes.
A seguir
à água, o betão
é o produto
mais consumido
pelo ser humano
Otmar Hubscher
Presidente da ATIC, Associação
da Indústria do Cimento,
e CEO da Secil
7%
Indústria
Do total das emissões do planeta são
oriundas da indústria cimenteira
48%
Emissões
Redução das emissões brutas de CO 2
por tonelada por parte da indústria
cimenteira nacional até 2030, em rela-
ção aos valores do início do século
14 mil
MILHÕES
Número de metros cúbicos de betão
produzidos anualmente em todo
o planeta, num total de consumo
de 4,2 mil milhões de toneladas
de cimento
€1 000
MILHÕES
Verba estimada que o setor
cimenteiro deverá investir em Portugal
na transição para a neutralidade
carbónica, até 2050
Descarbonização une patrões
dos cimentos
Otmar Hübscher, CEO da Secil
(à esquerda) e Luís Fernandes
CEO da Cimpor (à direita)