Exame - Portugal - Edição 452 (2021-12)

(Maropa) #1

  1. EXAME. DEZEMBRO 2021


O ano de 2020 foi penalizador em muitas
áreas de atividade, mas o ranking da EXA-
ME revela que a maior parte dos grandes
grupos demonstrou a resiliência necessária
para fazer face às adversidades. A diversifi-
cação dos negócios e das várias geografias
foi fundamental para manter o rumo ascen-
dente de alguns patrimónios empresariais
Afinal, ao que parece, os piores receios
não se confirmaram. Apesar de a crise mun-
dial ter afetado boa parte das economias e
empresas, o património dos 25 mais ricos
de Portugal não foi assim tão afetado pela
pandemia da Covid-19 quanto seria de es-
perar. A avaliação patrimonial das grandes
famílias portuguesas – estudo realizado pela
revista EXAME há vários anos consecutivos



  • revela que, em 2021, o valor conjunto das
    maiores fortunas nacionais atingiu o mon-
    tante de 22,1 mil milhões de euros, qualquer
    coisa como 11% do PIB de 2020, que se ficou
    pelos 200 mil milhões de euros.
    Este montante, que cresceu face a 2020,
    quando se situava em 19 mil milhões de eu-
    ros, foi muito inflacionado pelos primeiros
    nomes da lista: a família Soares dos Santos,
    herdeira do património de Alexandre Soares
    dos Santos, que controla a Jerónimo Mar-
    tins, dona dos supermercados Pingo Doce,
    e que valorizou consideravelmente face a
    2020, e pela ascensão meteórica da Farfe-
    tch, a tecnológica fundada por José Neves,
    avaliada, à data deste estudo (5 de novem-
    bro), em mais de 13 mil milhões de euros.
    Se a avaliação fosse feita a meio do mês de
    novembro, data de fecho desta edição, am-
    bas as famílias teriam uma fatia superior à
    contabilizada no ranking, já que a Farfetch
    ultrapassou o valor de mercado de 15 mil
    milhões de euros e a Jerónimo Martins che-
    gou a atingir os 21,61 euros por ação, o valor
    mais alto dos últimos anos.
    Segundo a nossa pesquisa, a maioria das


empresas e dos grupos detidos pelos empre-
sários nacionais mais poderosos resistiram
bem ao impacto da crise pandémica. Os ca-
sos que sofreram maior embate financeiro
foram as empresas mais focadas no setor
do turismo, como a hotelaria, os casinos, a
restauração, a comercialização de bebidas,
como cervejas, vinhos e cafés. No fundo, to-
das as que foram penalizadas pelo encerra-
mento e pelas limitações do canal Horeca,
como Dionísio Pestana, Rui Nabeiro, e a fa-
mília Violas, dona de parte do Super Bock
Group e dos casinos Solverde.
Mas nem todos os grupos sentiram o
mesmo impacto, até porque a diversifica-
ção das áreas de negócio e a aposta em di-
ferentes geografias serviu, em alguns casos,
de airbag financeiro. Foi o caso, por exemplo,
do Grupo Visabeira, que continua num sóli-
do crescimento ano após ano, e que, mesmo
tendo atividade na área do turismo, com ho-
téis, restaurantes e outros negócios de lazer,
nomeadamente em Moçambique, no parque
Gongorosa, conseguiu melhorar a sua ativi-
dade. Apesar do ano difícil, o grupo alcançou
a marca dos 960 milhões de euros de fatura-
ção, tendo registado um incremento de 5,5%
no seu volume de negócios, e um crescimen-
to dos EBITDA (lucros antes dos juros impos-
tos, depreciações e amortizações). Este é um
bom exemplo de conglomerado de origem
nacional, que atua em setores de atividade
que vão desde as telecomunicações à ener-
gia, construção e tecnologia, passando ainda
pelo turismo e pela indústria. Também Má-
rio Ferreira, dono da conhecida rede de cru-
zeiros Douro Azul, conseguiu dar a volta ao
mau ano, e segurou bem a sua fatia patrimo-
nial, tendo apenas registado uma queda de
cerca de 40 milhões de euros nesta edição.
Outro exemplo de superação foi o Grupo BA
Glass, que apesar de atuar essencialmente na
produção de garrafas e embalagens de vidro

para abastecer a indústria – produz cerca de
nove mil milhões de peças anualmente –,
conseguiu crescer a sua atividade em 2020,
um ano de constrangimentos mundiais. A
família Silva Domingues e a família de Carlos
Moreira da Silva estão este ano mais ricas no
ranking da EXAME.
Porém, nem todos mantiveram as suas
parcelas. A maior queda no setor do turismo
foi a do empresário Dionísio Pestana, que
tinha vindo a escalar o ranking nos últimos
anos – estava em nona posição, em 2020 –
e caiu para a 17ª este ano, devido aos maus
resultados de 2020. Ainda assim, a queda
não foi mais abrupta porque o grupo tem
uma boa relação entre ativos e dívida, ou
seja, capitais próprios sólidos. Outra quebra
no ranking devido à crise pandémica foi a
do empresário dos cafés Rui Nabeiro, que
caiu este ano para a 25ª posição, com uma
revisão em baixa na avaliação do património
superior a 100 milhões de euros.
Outro nome com presença habitual nes-
te ranking, como é o empresário dos trans-
portes, Humberto Pedrosa – dono dos trans-
portes Barraqueiro e parte da TAP –, e que
foi este ano empurrado para fora da lista, de-
vido aos maus resultados financeiros, pelos
motivos que todos bem conhecemos.

O TOP 5
Ano após ano, a lista dos mais ricos tem man-
tido uma certa estabilidade entre os primei-
ros nomes do ranking, grandes patrimóni-
os difíceis de destronar. Ao contrário do que
aconteceu com o legado de António Cham-
palimaud, em tempos o empresário mais
poderoso de Portugal, que acabou por ser
dividido pelos herdeiros – Manuel Champali-
maud detém ações dos CTT, a OZ Energia, os
Silos de Leixões e a sua fortuna foi avaliada
este ano em 203 milhões de euros, o irmão
Luís Champalimaud atravessa um período

O

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