CAPÍTULO 2
O Sol incidia a pique sobre a Piazza Della Signoria em Florença, ao mesmo tempo que uma
bonita rapariga trazia um gelado comprado a um vendedor de rua. Pediu um de limão e
chocolate, num italiano fluente, e saboreou a combinação enquanto as duas bolas de
gelado escorriam do cone para a sua mão. Ela lambeu o.excesso de gelado, enquanto o sol
se reflectia no seu cabelo-escuro, cor de cobre, à medida que ia passando pela Galeria
Uffizi a caminho de casa. Vivia em Florença há dois anos, depois de ter terminado a
faculdade com um bacharelato em belas-artes na Escola de Design de Rhode Island, uma
instituição respeitada, para pessoas com talento artístico, em especial estilistas, mas
também ali havia alguns estudantes de belas-artes. Após Rhode Island, obteve a
licenciatura na Ecole des Beaux Arts de Paris, cidade que também adorava. Toda a sua
vida sonhara em estudar arte em Itália; por fim chegara ali, vinda de Paris, e era ali que
sabia que pertencia e deveria estar.
Tinha aulas de desenho todos os dias e estava a aprender técnicas de pintura dos Velhos
Mestres. No decurso do ano anterior sentira que fizera um trabalho válido, muito embora
achasse que ainda tinha muito que aprender. Envergava uma saia de algodão e umas
sandálias que comprara a um vendedor de rua por quinze euros e usava também uma
blusa típica que comprara numa excursão que fizera a Siena. Nunca se sentira tão feliz
como ali. Morar em Florença era a realização de um sonho.
Andava a fazer planos para frequentar uma aula de desenho informal com um modelo ao
vivo, no estúdio de um artista, às seis horas dessa tarde, depois partiria para os Estados
Unidos no dia seguinte. Detestava ter de partir, mas prometera à sua mãe que iria a casa,
tal como fazia todos os anos. Era um tormento para ela deixar Florença, mesmo que fosse
apenas por alguns dias. Regressaria dentro de uma semana, depois iria fazer um passeio
pela Umbria com amigos. Já visitara muitos lugares de Itália desde que ali chegara, fora ao
lago de Como, passara um tempo em Portofino e quase parecia que já visitara todas as
igrejas e todos os museus de Itália. Nutria uma paixão muito particular por Veneza, pelas
igrejas e a arquitectura dessa cidade. Sabia com a mais absoluta certeza que a Itália era o
lugar certo para si e podia dizer-se que renascera desde que ali vivia. Foi naquela terra que
se encontrou a si mesma.
Alugara um minúsculo apartamento numas águas-furtadas de um edifício degradado, que
era perfeito para si. O trabalho que estava a fazer revelava os frutos do seu trabalho árduo
durante os últimos anos. Oferecera aos pais um dos seus quadros, pelo Natal, e eles
ficaram surpreendidos com a profundidade e com a beleza do seu trabalho. Tratava-se de
uma pintura de uma Madona com o Menino, muito ao estilo dos Velhos Mestres da
pintura e utilizando todas as suas técnicas novas. Chegara mesmo a ser ela própria a
misturar as tintas, de acordo com um processo antigo. A mãe disse que era uma
verdadeira obra-prima e pendurou o quadro na sala de estar. Foi a própria Annie que o
levou para casa, embrulhado em jornais e o descerrou diante deles na véspera de Natal.
Agora ia a casa para a festa do feriado do Quatro de Julho que os pais davam todos os
anos e que ela e as irmãs moviam céus e terra para poderem estar presentes. Este ano
seria um sacrifício para Annie. Havia tanto trabalho que desejava fazer, que detestava ter
de afastar-se, nem que fosse por uma semana apenas. Mas, à semelhança das suas irmãs,