CAPÍTULO 12
A psiquiatra foi ver Annie ao hospital, como prometera na quarta-feira à tarde, e
telefonou a Sabrina depois de a ver. Não podia revelar nada do que Annie lhe contara,
devido ao sigilo médico, mas disse a Sabrina que estava satisfeita com o encontro de
ambas e planeava visitá-la de novo, uma vez mais, no hospital, antes de Annie receber alta
e esperava recebê-la regularmente assim que ela se mudasse para Nova Iorque. Annie
ainda não dissera a Sabrina que iria morar na tal casa com as irmãs, mas tudo levava a crer
que sim. Além disso, Sabrina assinara o contrato de arrendamento na noite anterior.
A psiquiatra tranquilizou Sabrina, dizendo-lhe que a irmã não manifestava tendências
suicidas, nem sequer estava deprimida além do que se julgaria normal. Estava a atravessar
todas as emoções que se esperava, após um tipo de trauma como o que sofrera, a perda
da mãe e da visão em resultado disso. Era um golpe duplo duríssimo. A médica sugeriu, tal
como também já o fizera o cirurgião, que seria benéfico para Annie inscrever-se num
programa de reabilitação que trabalhasse com pessoas que tivessem acabado de perder a
visão, mas disse que o médico dela se encarregaria de transmitir essas recomendações
antes de Annie ir para casa. Entretanto, estava satisfeita com o quadro que encontrou.
Para Sabrina, aquela notícia já era suficientemente boa.
O encontro com a médica foi especialmente interessante para Annie, que ficara furiosa
quando a psiquiatra entrou no seu quarto e lhe disse quem era. Disse-lhe que Sabrina a
tinha chamado e no início Annie recusou-se a falar. Declarou que não queria ajuda
nenhuma e que estava muito bem sozinha.
— Tenho a certeza disso — garantiu-lhe a psiquiatra, Ellen Steinberg. — Mas não lhe fará
mal nenhum conversar.
Annie acabou por explodir e disse que a médica não fazia ideia do que ela estava a passar
e que não sabia como era ser cega.
— Por acaso, até sei — replicou a Dra. Steinberg com calma. — Eu mesma sou cega. Fiquei
assim desde que sofri um acidente de automóvel muito parecido com o seu, pouco tempo
depois de ter terminado o curso de Medicina. Isso foi há vinte e quatro anos. Depois disso,
passei alguns anos muito duros. Decidi abandonar a medicina. Tinha-me especializado em
cirurgia e por isso, tanto quanto eu achava, a minha carreira estava terminada. Não há
muita procura por cirurgiões cegos.
Annie estava fascinada com o que escutava.
— Além disso, tinha a certeza absoluta de que não havia mais nenhuma especialidade que
me interessasse. Eu achava que a psiquiatria era uma perda de tempo. Que iria eu fazer
com um bando de lunáticos e de neuróticos? Eu queria ser uma cirurgiã de cardiologia,
que era algo que dava bastante prestígio. Por conseguinte, fiquei sentada em casa durante
uns dois anos e levei a minha família à loucura. Comecei a beber imenso, o que complicou
ainda mais as coisas. Por fim, o meu irmão disse-me que eu estava a ser uma idiota, que a
minha família já estava farta de me ver sentir pena de mim mesma e perguntou-me
porque não ia procurar um emprego e parava de punir toda gente pelo facto de me sentir
infeliz.
"Eu não podia fazer nada. Não tinha experiência em emprego nenhum a não ser a minha
formação em medicina. Arranjei emprego numa empresa de ambulâncias, como