— Não te preocupes com isso — disse Sabrina para Annie. — Podes fazer outras coisas
para me ajudares. Talvez possas ajudar o pai a pôr a loiça na máquina de lavar. Ele
também deve ter um problema de visão, está sempre a pôr os pratos lá dentro com
comida e tudo. Acho que ele ainda não percebeu como a coisa funciona. Assim, a máquina
só agarra a comida como cimento aos pratos e aos talheres. Julgo que a mãe nunca deixou
o pai ajudá-la.
— Eu vou descer — disse Annie, pondo-se de pé e tacteando para tentar sair do quarto.
Estava lindíssima com o seu novo corte de cabelo e Sabrina voltou a dizer-lho.
Sabrina foi encontrar Annie e o pai na cozinha vinte minutos mais tarde. Annie conseguia
sentir a comida nos pratos e passava-os por água. Fazia um trabalho muito mais perfeito
do que o pai, que não era cego, apenas desajeitado e mimado. Era deprimente ver como
ele se sentia perdido desde que a mãe tinha morrido. O pai forte, sensato e sábio que elas
tanto admiravam, desaparecera diante dos seus olhos. Era um homem fraco, assustado,
confuso, deprimido e chorava o tempo todo. Sabrina sugerira que também ele consultasse
um psiquiatra, mas o pai recusou-se, muito embora precisasse de um tanto como Annie,
que parecia gostar bastante da sua médica.
Sabrina deixava que Annie tomasse conta do pai, quando ela e Candy tinham de ir à
cidade para prepararem tudo para a mudança. Annie já visitara a casa e tacteara tudo à
sua volta. Disse que gostava do seu quarto, apesar de não poder vê-lo. Gostava de ter o
seu próprio espaço e disse que o tamanho do quarto era razoável e mostrou-se satisfeita
por ter a companhia de Candy do outro lado do corredor, caso precisasse de ajuda.
Contudo, não gostava que a ajudassem, a menos que ela pedisse. Deixara isso bem claro;
estava sempre a meter-se em sarilhos, mas esforçava-se com toda a bravura para
resolvê-los sozinha, por vezes com bons resultados. Noutras ocasiões não era capaz, o que
frequentemente dava origem a birras, acessos de fúria e a lágrimas. Nesse momento,
Annie não era uma pessoa de convivência fácil, mas tinha uma desculpa mais do que
válida para isso. Sabrina esperava que quando Annie fosse para a escola de formação para
invisuais, a sua atitude melhorasse. Caso contrário, iria ser muito duro viver com Annie
durante muito tempo. Entre a depressão esmagadora do pai por ter perdido a esposa e a
raiva de Annie por causa da sua cegueira, o ambiente em torno da família era demasiado
desgastante para todos. Além disso, Sabrina reparou que Candy andava a comer cada vez
menos. O seu distúrbio alimentar parecia estar no seu auge desde a morte da mãe. A
única pessoa normal com quem Sabrina podia conversar era com Chris, que tinha uma
paciência de santo, mas que também era um homem muito ocupado, com o seu mais
recente caso complicadíssimo. Sabrina sentia-se como se estivesse a ser puxada em várias
direcções diferentes, cuidando de todos eles e organizando a mudança, em especial agora
que voltara ao trabalho.
— Estás bem? — perguntou-lhe Chris uma noite com ar preocupado.
Estavam os dois no antigo apartamento de Sabrina e ela dissera que se sentia demasiado
cansada, até mesmo para comer. Bebera uma cerveja ao jantar, não comera mais nada a
acompanhar e ela raramente bebia.
— Estou exausta — declarou Sabrina com franqueza, deitando a cabeça no colo dele.
Chris estivera a assistir a um jogo de beisebol na TV enquanto ela encaixotava os seus
livros. Iriam mudar-se dentro de três dias e verificava-se uma vaga de calor na cidade, o
carla scalaejcves
(Carla ScalaEjcveS)
#1