ela.
— É uma pena eu não ser heterossexual — sussurrou
ele.
— Pois é. Talvez te cures.
— Do quê? — perguntou Baxter, parecendo chocado. — Do facto de seres gay. — Estás a
falar a sério?
A amizade dos dois estava prestes a completar-se. — Não — respondeu ela e ele desatou
às gargalhadas.
— Gosto de ti, Annie.
— Também gosto de ti, Baxter.
Ambos estavam a ser sinceros, o que era fantástico. Parecia um milagre terem-se
conhecido na cantina e terem-se sentado à mesma mesa. Dois artistas cegos no meio de
um mar de gente. Havia oitocentos adultos naquela escola. Também havia uma secção
juvenil, mas os adultos eram em muito maior número. Além disso, era considerada uma
das melhores escolas de formação de cegos do mundo. De repente, sentiram-se os dois
cheios de sorte por ali estarem, quando antes lhes parecera um castigo.
— Amigos de verdade? — perguntou ele antes de se separarem para irem para as suas
respectivas casas.
A viagem de Annie era muito mais curta e muito mais fácil do que a dele. A deslocação de
Baxter parecia uma odisseia para Annie.
— Para todo o sempre — prometeu Annie quando apertaram as mãos. — Faz uma boa
viagem até casa.
— Tu também. Tenta não te estatelares na rua outra vez à saída. Isso dá má reputação à
escola. A chegada não faz mal, mas à saída deverias, pelo menos, esforçar-te por mostrar
que sabes o que estás a fazer.
Annie riu-se de novo e Baxter foi-se embora.
Havia guias no corredor para ajudarem os novos alunos a encontrarem a porta principal e
para ajudá-los a apanhar transportes na rua. Annie explicou a um deles que precisava de
um táxi e ele disse-lhe para esperar, pois viria buscá-la quando arranjasse um táxi. Annie
estava de pé no átrio principal, sentindo-se perdida de novo, quando alguém lhe dirigiu a
palavra. Era uma voz masculina e parecia calma e agradável..
— Miss Adams?
— Sim.
Annie parecia hesitante e, de repente, tímida.
— O meu nome é Brad Parker. Só queria cumprimentá-la e dar-lhe as boas-vindas à
escola. Como correu o seu primeiro dia?
Annie não sabia muito bem se deveria dizer-lhe a verdade. A voz dele parecia ser bastante
adulta, ao contrário da de Baxter, que parecia um garoto, ainda mais novo do que era de
facto.
— Correu muito bem — respondeu Annie em voz suave.
— Ouvi dizer que sofreu um ligeiro percalço à chegada. Temos de conseguir que os
serviços camarários tratem da berma daquele passeio. Está sempre a suceder o mesmo.
Annie sentiu-se menos estúpida por ter caído quando ele disse aquilo, o que lhe pareceu
simpático, quer fosse verdade, quer não.
carla scalaejcves
(Carla ScalaEjcveS)
#1