— Ela está doente? — perguntou ele, parecendo ter ficado preocupado na mesma hora.
Tammy odiou-se pelo que estava prestes a fazer. Mas talvez isso o afugentasse.
Desculpando-se em silêncio com Annie, ergueu os olhos e fitou-o com comiseração.
— Ela é cega. Na verdade, não gosto nada de sair e deixá-la em casa sozinha.
— Oh, lamento muito... não fazia ideia... é claro... que santa que és em tomar conta dela.
Moras com ela?
— Moro, sim. Aconteceu este ano e a minha irmã só tem vinte e seis anos.
Era patético usar a deficiência da irmã de forma tão indecente, mas valia tudo numa
emergência. Até teria inventado também a morte da avó se fosse preciso.
— Vou rezar por ela — garantiu-lhe Ed — e por ti também.
— Obrigada, Ed — respondeu Tammy com uma expressão de solenidade.
Em seguida, encaminhou-se para a sua reunião com a administração. Era muito provável
que ele até fosse um ser humano muito digno, mas era horroroso e repugnante. A sua
especialidade. Os homens como ele eram os únicos que a convidavam para sair, onde
quer que se encontrasse.
Tammy contou às irmãs toda aquela conversa nessa noite quando estavam a limpar os
pratos depois do jantar. Annie estava a passá-los por água e a pô-los na máquina de lavar.
Sabrina verificara as tigelas dos cães e Annie dera-lhes de comer. Annie dizia que Sabrina a
tratava como se fosse a Gata Borralheira e a irmã mais velha absteve-se de comentar.
Tammy deixou-as a todas histéricas ao descrever Ed.
— Estão a ver o que eu quero dizer? Estes são os únicos homens que me convidam para
sair. Dentes sinistros, tranças no cabelo, vegetarianos e tipos que levam clisteres em LA.
Juro que já não namoro com nenhum homem normal há anos. Já nem sei bem como é
que é esse artigo.
— Também acho que já não sei — admitiu Candy. — Todos os homens que conheço ou
são bissexuais, ou são gays. Gostam de mulheres, mas gostam mais ainda de rapazes. Já
nem sei como são os tipos heterossexuais.
Annie não disse nada. Sentia-se completamente excluída e isso acontecia desde o
acidente que sofrera no Verão passado. Em circunstâncias normais, depois de romper com
Charlie, voltaria a namorar passados alguns meses. Agora, achava que para si tudo isso
acabara. O único homem com quem conversara nos últimos meses fora com o seu amigo
Baxter, na escola. A vida amorosa dele era muito mais feliz do que a dela. Ele tinha um
namorado. Annie tinha a certeza de que nunca mais arranjaria nenhum.
— A única da família que não se pode queixar é a Sabrina — comentou Candy. — O Chris é
o único homem normal que eu conheço.
— Pois é, também acho — concordou Tammy. — Normal e amoroso. É uma combinação
imbatível. Quando conheço homens normais, ou pelo menos homens que parecem
normais, acontece que ou são parvos ou são casados. Acho que, se calhar, poderia
começar a namorar com um dos fabulosos participantes do meu programa.
Tammy contou-lhes sobre o incidente com aquele homem, nessa manhã, e Sabrina
abanou a cabeça. Ainda não conseguia acreditar que Tammy tivesse aceitado o emprego
para produzir aquele programa. Abandonar o seu emprego fora, de facto, o maior
sacrifício para ela. Tammy falava pouco sobre o assunto, mas as irmãs estavam bem
cientes disso. Ao invés, o programa onde ela trabalhava agora era o oposto do espectro:
carla scalaejcves
(Carla ScalaEjcveS)
#1