Era alto, louro, tinha os ombros largos e achavam que os dois faziam um casal amoroso.
— Feliz Natal também para si, Annie — disse Brad em voz baixa. — Gostei muito de estar
consigo.
— Eu também — respondeu Annie e fechou a porta atrás de si.
Nesse momento, já todos estavam a dormir e Annie subiu as escadas em bicos de pés até
ao seu quarto, parecendo feliz. Fora um primeiro encontro muito agradável e valera cada
centavo que pagara a Sabrina pela sua aposta.
O último dia do programa antes do interregno do Natal foi previsivelmente louco. Os
convidados estavam histéricos, frenéticos com a época festiva e mais mesquinhos do que
o habitual com os seus companheiros. Um casal começou a discutir com violência e
tiveram que interromper o programa e pôr no ar a publicidade. E pela primeira vez na
história do programa, a psicóloga Désirée foi atingida na cara e tivera um ataque histérico.
Tomou um Xanax e chamou o seu advogado, ameaçou processá-los e disse que iriam ter
de pagar, e bastante, por isso. Todo o pessoal estava de ressaca e com dores de cabeça
por causa da festa de Natal na noite anterior.
— Os riscos de vida em directo — comentou Tammy com alguém, quando correu a ir
buscar um saco de gelo para Désirée e tentar acalmá-la.
O casal que começara a discutir chegou a fazer as pazes ainda no estúdio durante o
programa, o que Tammy disse a Désirée ser uma enorme vitória para ela.
Verificava-se a loucura do costume quando, ajuntar a tudo o resto, dois dos executivos da
estação televisiva chegaram ao estúdio para assistirem ao programa. Queriam saber a que
se devia toda aquela confusão. Desde que Tammy ali trabalhava, os patrocinadores faziam
fila e os índices de audiência dispararam. Tammy vinha com o saco de gelo na mão para
entregar a Désirée quando foi apresentada aos executivos; um deles perguntou-lhe se
tinha tido aulas de defesa pessoal para trabalhar no programa.
— Não, só o curso de primeiros socorros da Cruz Vermelha — respondeu ela, ainda a
segurar no saco de gelo. — Ministramos terapia de eletrochoques se eles ficarem
demasiado descontrolados.
O homem riu-se e ainda ali estava quando Tammy saiu do camarim de Désirée. Por fim,
conseguira acalmar-se.
— Há alguma razão especial para querer trabalhar num manicómio? — perguntou-lhe ele.
Achara que o programa fora hilariante, apesar do seu incrível mau gosto. Havia um certo
humanismo e pungência no programa, mas, no fundo, até Tammy sabia que era péssimo.
— É uma longa história. Tive de vir morar para Nova Iorque durante um ano. Por isso
prescindi do meu emprego em LA.
Era mais do que um emprego. Ele conhecia o programa que Tammy produzia antes e não
conseguia acreditar que ela tivesse abandonado tudo aquilo. E o mesmo acontecia com
toda a gente.
— Foi por causa de um homem, suponho — disse ele com astúcia, mas Tammy abanou
negativamente a cabeça com um sorriso.
— Não, foi pela minha irmã. Ela sofreu um acidente terrível e as minhas outras irmãs
decidiram tomar conta dela durante um ano. Mudámo-nos e fomos viver todas juntas,
tem sido óptimo. E aceitei este emprego. Então, cá estou eu, a enfermeira Ratched num
manicómio, distribuindo sacos de gelo e Valium.
carla scalaejcves
(Carla ScalaEjcveS)
#1