CAPÍTULO 8
Os olhos de Annie ainda estavam enfaixados com ligaduras quando as irmãs chegaram ao
hospital, e o médico interno assegurou-lhes que assim se manteriam pelo menos por mais
uma semana. Isso dava-lhes tempo para prepararem o que iriam dizer-lhe. Annie
queixava-se que não conseguia ver nada com aquelas ligaduras e pediu em voz fraca que
lhas tirassem. Sabrina explicou-lhe que os seus olhos haviam ficado feridos no acidente,
que a tinham operado à vista e que sentiria dores se tirassem as ligaduras. Beijaram a
irmã, seguraram-lhe nas mãos e disseram-lhe o quanto a amavam. As três irmãs e Chris
foram visitá-la. O pai ainda estava demasiado arrasado para enfrentar outro episódio
emocional. Prometeu que iria visitar a filha no dia seguinte. Ainda teriam de suportar o
enterro da mãe na tarde do dia seguinte. Iria ser uma cerimónia breve no cemitério e em
seguida deixá-la-iam lá. As raparigas estavam ansiosas por que tudo passasse depressa.
Era mais um dia de tortura para elas e para o pai e nos últimos quatro dias já haviam
sofrido mais do que o suficiente. O enterro da mãe seria a última etapa na sucessão de
tradições que agora lhes pareciam todas bárbaras e seria a derradeira.
Ver Annie a falar, a mexer-se outra vez e a dirigir-se a cada uma delas era uma afirmação
de vida. Annie perguntou onde estavam os pais. Tammy limitou-se a dizer que eles não
haviam vindo. Tinham concordado todas em não contar nada ainda à irmã sobre a morte
da mãe. Annie acabara de acordar, e parecia cruel darem-lhe aquela notícia antes de ela
recobrar pelo menos um pouco das suas forças, em especial com o choque que ainda teria
de enfrentar sobre a sua cegueira.
— Pregaste-nos um susto enorme — disse Tammy, beijando-a uma e outra vez.
Sentiam-se todas muito gratas por tê-la de volta e Candy deitou-se na cama ao lado da
irmã e abanou os pés fora da cama, o que fez com que todas se rissem. Aninhou-se junto
de Annie e sorriu pela primeira vez em quatro dias.
— Tive saudades tuas — disse-lhe Candy em voz baixa, deitando-se o mais perto possível
da irmã, como uma criança aconchegando-se de encontro ao regaço da mãe.
— Eu também — respondeu Annie numa voz cansada, estendendo as mãos para tocar
cada uma delas.
Chris chegou mesmo a entrar no quarto por alguns minutos, mas declarou que não queria
fatigá-la.
— Também estás aqui? — perguntou Annie quando ouviu a voz dele e sorriu.
Chris era como um irmão mais velho para todas elas.
— Pois estou. Vim para o feriado do Quatro de Julho e ainda não me fui embora.
Não lhe disse que era ele que cozinhava para todos, caso contrário Annie perguntaria
onde estava a mãe.
— Não era assim que eu tencionava passar as minhas férias — disse Annie com um sorriso
e voltou a tocar nas ligaduras que lhe envolviam os olhos.
— Dentro de alguns dias vais estar de pé e a pular por todo o lado — prometeu Tammy.
— Ainda não me apetece correr — admitiu Annie. — Tenho uma dor de cabeça terrível.
Tammy e Sabrina prometeram chamar a enfermeira. Esta chegou alguns minutos depois
para ver como Annie estava e lembrou-as de que não deveriam fatigar a doente a quem
deu um medicamento para as dores de cabeça. Depois de a beijarem e a abraçarem,