a fitar a urna onde se encontravam as cinzas. — Agora, a mãe nunca vai ficar doente nem
velha. Ela não sofreu. Viveu para poder ver todas as filhas crescidas. O pai sempre irá
recordar-se dela ainda bonita e jovem.
Jane mudara muito pouco. A sua beleza era intemporal e transparecia vivacidade, energia
e juventude. Fora uma mulher deslumbrante mesmo até ao fim. Sempre se lembrariam
dela desta maneira. A mãe fora dotada de uma enorme graciosidade. Jim acenou com a
cabeça em sinal de concordância com o que a filha acabara de dizer, sem proferir uma
palavra como resposta. Pegou numa das rosas de caule comprido e colocou-a sobre a urna
ao pé das outras, em seguida pegou numa segunda, guardou-a na mão e afastou-se de
cabeça baixa. Os últimos dias foram os mais duros de toda a sua vida e as filhas sabiam
disso como ninguém. Parecia que Jim envelhecera uma década em cinco dias.
O pai entrou na limusina sem tecer comentários e sentou-se ao lado de Sabrina. Ficou ali
sentado a olhar pela janela durante o trajecto para casa. Tammy também ia no carro com
eles. Chris e Candy vinham na segunda limusina. Mantiveram o enterro privado, e as três
filhas ficaram aliviadas por aqueles dolorosos rituais associados à morte da mãe terem
chegado ao fim. Foram três dias bastante pesados, entre o velório, o funeral, centenas de
convidados em sua casa, depois, e agora este último episódio lancinante de deixarem a
mãe na sua última morada de repouso eterno. Falaram sobre a hipótese de guardarem as
cinzas da mãe em casa, mas Sabrina e Tammy decidiram que seria melhor deixar a
discreta urna de madeira no cemitério. Sabrina tinha um pressentimento de que a mãe
haveria de preferir assim. Uma vez que não deixara instruções sobre as cerimónias
fúnebres, tiveram de adivinhar e consultaram o pai sobre os mais ínfimos pormenores de
todos os preparativos. Jim só queria que o pesadelo terminasse e que Jane voltasse para
eles. Sabrina tinha um forte pressentimento de que a realidade de tudo aquilo ainda iria
permanecer à tona por muito tempo para todos eles. A mãe morrera apenas há alguns
dias e era como se ela tivesse ido passar um fim-de-semana prolongado fora e ainda
pudesse regressar a qualquer momento.
Sabrina sabia que agora tinham de concentrar-se em Annie, na sua completa recuperação
da cirurgia ao cérebro e na sua adaptação a uma vida totalmente nova, agora que estava
cega. Ainda não haviam começado a percorrer esse caminho com ela, e Sabrina contava
que a transição da artista para a mulher que já não podia ver fosse demorar muito tempo.
Era uma cruz muitíssimo pesada para carregar.
Assim que chegaram a casa, o pai disse que precisava de ir ao banco nessa tarde. Sabrina
ofereceu-se para levá-lo, mas ele disse que queria ir sozinho. A semelhança das outras
filhas, Sabrina tentava apoiá-lo o mais possível, sempre que ele quisesse, e também
dar-lhe espaço para os momentos em que parecia querer estar sozinho. Tal como todos, o
estado de espírito do pai tinha altos e baixos. Por vezes, todo o peso daquela tragédia
quase o esmagava; outras vezes, ele sentia-se bem por umas horas e depois voltava a
mergulhar em depressão, de repente, de forma brutal, subjugado por toda a força
daquela perda pesando-lhe sobre os ombros. Jim sentia-se como se todo o seu mundo
estivesse voltado de pernas para o ar e, em muitos aspectos, era assim que estava.
Foi forçado a avisar no escritório que não contassem com ele nessa semana e talvez
também na semana seguinte. Queria esperar para ver como se sentia. Jim fora consultor
de investimentos pessoais durante toda a sua carreira, e os seus clientes seriam
carla scalaejcves
(Carla ScalaEjcveS)
#1