Um lugar bem longe daqui

(Carla ScalaEjcveS) #1

pista.
Dá um gritinho quando de repente a água chega por debaixo dela, acaricia suas
coxas e entre as pernas, passa pelas costas, rodopia sob a cabeça, puxa seu cabelo
em fios negros de tinta. Ela gira mais depressa para dentro da onda que cresce, de
encontro a uma cascata de conchas e pedacinhos de oceano, e a água a envolve.
Ao encontrar o corpo forte do mar, ela é segurada, abraçada. Não está sozinha.
Kya se senta e abre os olhos para o oceano espumando em volta dela com
desenhos brancos e suaves, nunca os mesmos.


*


Desde que Chase a olhara na praia, Kya fora ao cais de Pulinho duas vezes na
mesma semana. Sem admitir para si mesma que torcia para encontrar Chase lá. Ser
notada por alguém tinha feito vibrar uma corda de sociabilidade. E nesse dia ela
perguntou a Pulinho:
— E como vai Mabel? Seus netos estão de visita?
Como nos velhos tempos. Pulinho reparou na mudança, mas soube que era
melhor não comentar.
— Ah, sim, tem quatro com a gente agora, senhorita. Casa cheia de risada,
coisa e tal.
Algumas manhãs depois, entretanto, quando Kya chegou de barco ao cais,
Pulinho não estava por perto. Pelicanos marrons encolhidos em estacas a
observaram como se vigiassem a loja. Kya sorriu para eles.
Um toque no seu ombro a fez se sobressaltar.
— Oi.
Virou-se e encontrou Chase em pé atrás dela. Seu sorriso sumiu.
— Meu nome é Chase Andrews.
Os olhos dele, azuis como gelo, penetraram os seus. Ele parecia totalmente à
vontade ao encará-la.
Ela não disse nada, mas moveu o peso do corpo de uma perna para outra.
— Já vi você por aí. Ao longo dos anos, no brejo, sabe? Qual é o seu nome?
Por um instante ele achou que ela não fosse falar; talvez fosse muda ou falasse
algum idioma primitivo, como certas pessoas comentavam. Um homem menos
seguro poderia ter ido embora.
— Kya.
Ele obviamente não se lembrava daquele encontro de bicicleta na calçada, nem
a conhecia de qualquer outro modo que não como a Menina do Brejo.
— Kya... Diferente. Mas bonito. Quer fazer um piquenique? No meu barco,
domingo agora?
Ela fixou o olhar além dele, tomando tempo para avaliar suas palavras, mas não
conseguiu esperar muito. Era uma oportunidade de estar com alguém.
Por fim, falou:
— Está bem.
Ele lhe disse para encontrá-lo na península de carvalhos ao norte de Point

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