27.
Hog Mountain Road
1966
O barracão estava silencioso em meio aos primeiros movimentos das asas dos
melros enquanto uma vigorosa névoa invernal se formava rente ao chão,
acumulando-se junto às paredes feito grandes fiapos de algodão. Com o dinheiro
de várias semanas dos mariscos, Kya havia comprado mantimentos especiais e
fritado fatias de presunto com melaço, preparado um molho com café e servido
acompanhado por pães de minuto com creme azedo e geleia de amora. Chase
bebeu café solúvel Maxwell House; ela, um chá Tetley quente. Fazia quase um
ano que estavam juntos, embora nenhum dos dois comentasse sobre isso. Chase
mencionou como era sortudo pelo fato de o pai ser dono da Western Auto:
— Assim a gente vai ter uma casa legal quando se casar. Vou construir uma de
dois andares para você na praia, com varanda em toda a volta. Ou a casa que você
quiser, Kya.
Ela mal conseguiu respirar. Ele a queria na sua vida. Aquilo não era apenas
uma alusão, mas algo semelhante a um pedido de casamento. Ela iria pertencer a
alguém. Fazer parte de uma família. Sentou-se mais ereta na cadeira.
Ele continuou:
— Acho que a gente não devia morar bem no meio da cidade. Seria uma
mudança radical demais para você. Mas a gente poderia construir uma casa nos
arredores. Perto do brejo, sabe?
Ultimamente, alguns pensamentos vagos sobre se casar com Chase haviam
surgido na sua mente, mas ela não se atrevera a lhes dar muita atenção.
Entretanto, ali estava ele, dizendo-os em voz alta. A respiração de Kya estava rasa,
e ao mesmo tempo que custava a acreditar sua mente ia processando os detalhes.
Isso eu consigo, pensou ela. Se a gente morar longe das pessoas, talvez dê certo.
Então, com a cabeça baixa, perguntou:
— E seus pais? Você contou para eles?
— Kya, você precisa entender uma coisa sobre os meus pais. Eles me amam.
Se eu disser que te escolhi, vai ser isso e pronto. Eles vão se apaixonar por você
quando te conhecerem.
Ela mordeu os lábios. Querendo acreditar.