laboratório a bordo, com vários microscópios e suportes para frascos. Outros
instrumentos zumbiam e piscavam.
Tate manuseou o maior dos microscópios e ajustou a lâmina.
— Aqui, só um segundo. — Pingou uma gota da água do brejo na lâmina,
cobriu-a com uma segunda lâmina e ajustou o foco do visor. Levantou-se. — Dê
só uma olhada.
Kya se inclinou delicadamente, como se fosse beijar um bebê. A luz do
microscópio refletiu em suas pupilas escuras e ela suspirou quando um carnaval
inteiro de foliões fantasiados surgiu deslizando e rodopiando. Adornos de cabeça
inimagináveis enfeitavam corpos espantosos, tão ávidos por mais vida que se
agitavam como se estivessem dentro da lona de um circo e não de uma única gota
d’água.
Ela levou a mão ao coração.
— Eu não fazia ideia de que eram tantas e tão lindas — falou, ainda olhando.
Ele identificou uma ou outra espécie, então deu um passo para trás,
observando-a. Ela sente a vida pulsar, pensou, porque não há camadas entre ela e o
planeta.
Mostrou outras lâminas.
— É como se você nunca tivesse visto as estrelas e de repente visse —
sussurrou Kya.
— Quer um café? — perguntou ele baixinho.
Ela levantou a cabeça.
— Não, não, obrigada.
Ela então se afastou do microscópio e foi para a cozinha. Movendo-se de
modo desajeitado, tentando manter o olho marrom e verde virado para o lado
oposto.
Tate estava acostumado com o fato de Kya ser arisca, mas o comportamento
dela parecia mais distante e estranho do que nunca. Ela sempre mantinha a cabeça
virada no mesmo ângulo.
— Por favor, Kya. Só um café.
Na cozinha, ele estava despejando água numa máquina que coava um café
forte. Kya ficou parada junto à escada que levava ao convés, mas ele lhe passou
uma caneca e acenou para ela subir. Convidou-a para se sentar no banco estofado,
mas ela ficou em pé na popa. Como um gato, sabia onde ficava a saída. O banco
de areia branco e brilhante se estendia para longe numa curva sob o abrigo dos
carvalhos.
— Kya... — Tate começou a fazer uma pergunta, mas, quando ela o encarou,
ele viu o hematoma já desbotado. — O que houve com o seu rosto?
Ele foi na direção dela, estendendo a mão para tocar sua bochecha. Ela se
virou.
— Nada. Esbarrei na porta no meio da noite.
Ele sabia que não era verdade pelo modo como ela havia levado a mão ao
rosto. Alguém tinha batido nela. Será que fora Chase? Será que ela continuava
saindo com ele por mais que estivesse casado? Tate contraiu o maxilar. Kya
esticou o braço para largar a caneca, como se estivesse indo embora.
carla scalaejcves
(Carla ScalaEjcveS)
#1