segundo ano.
Kya sabia que os pais do menino de cabelo escuro eram donos da loja de
automóveis Western Auto, por isso ele andava na bicicleta mais chique. Já o vira
descarregando da picape caixas grandes de papelão com mercadorias ou as levando
para dentro da loja, mas nunca tinha trocado uma palavra sequer nem com ele
nem com os outros.
Esperou alguns minutos e depois, mais uma vez de cabeça baixa, foi até o
armazém. Dentro do Piggly Wiggly, examinou a farinha de milho para mingau à
venda e escolheu um pacote de meio quilo do mais grosso e amarelo porque tinha
uma etiqueta vermelha pendurada em cima: Especial da semana. Como Ma tinha
ensinado. Ficou esperando, aflita, no corredor até não ter mais nenhum cliente no
caixa, então se aproximou e encarou a funcionária, a Sra. Singletary, que
perguntou:
— Cadê sua mãe?
A Sra. Singletary tinha o cabelo curto, muito encaracolado e da mesma cor
roxa de uma íris ao sol.
— Ocupada, senhora.
— Bem, você tem dinheiro para a farinha, não tem?
— Tenho.
Sem saber contar a quantia exata, pôs no balcão a nota de um dólar.
A Sra. Singletary se perguntou se a menina saberia a diferença entre as moedas,
por isso, ao pôr o troco na mão aberta de Kya, contou devagar.
— Vinte e cinco, cinquenta, sessenta, setenta, oitenta, oitenta e cinco e mais
três centavos. Porque a farinha custa doze.
Kya sentiu uma dor no estômago. Será que precisava fazer alguma conta
também? Encarou o quebra-cabeça de moedas na palma da mão.
A Sra. Singletary suavizou a expressão.
— Muito bem. Pode ir então.
Kya saiu correndo da loja e foi o mais rápido que conseguiu até a trilha do
brejo. Ma dissera muitas vezes: “Nunca corra na cidade, senão as pessoas vão
achar que você roubou alguma coisa.” Mas assim que chegou à estrada de terra
batida Kya correu quase um quilômetro inteiro. Então andou depressa pelo resto
do caminho.
Em casa, pensando se sabia preparar mingau de milho, jogou-o na água
fervente como Ma costumava fazer, mas os grãos empelotaram e formaram uma
única bola gigante que queimou no fundo e ficou cru por dentro. De tão
borrachudo, ela só conseguiu dar algumas mordidas, então foi de novo até a horta
e encontrou mais algumas folhas de nabo entre as varas-de-ouro. Ferveu na água e
comeu todas, bebendo também o caldo da panela.
Em poucos dias pegou o jeito de fazer mingau de milho, embora sempre
empelotasse um pouco, mesmo que ela mexesse muito. Na semana seguinte,
comprou ossos de boi — marcados com etiqueta vermelha — e os cozinhou com
o mingau e as folhas de couve para conseguir um purê com um gosto bom.
Kya já tinha lavado roupa muitas vezes com Ma, então sabia que era para
esfregá-las com sabão de soda cáustica em barra na tábua sob a torneira do quintal.
carla scalaejcves
(Carla ScalaEjcveS)
#1