conversar comigo?
— Por favor, me tire daqui. De um jeito... ou de outro.
— Vou fazer o possível para tirar você daqui, Kya. Mas não desista. E, por
favor, me ajude. Como eu já comentei, você precisa se envolver mais, olhar para
os jurados de vez em quando...
Mas Kya já tinha se virado para sair.
*
Jacob a conduziu de volta para a cela, onde ela pegou o embrulho de Pulinho que
tinha sido aberto pelo carcereiro e depois fechado de qualquer maneira com fita
adesiva. Abriu, dobrando e guardando o papel. Lá dentro havia um cesto com
alguns vidrinhos minúsculos de tinta, um pincel, papel e um saco de papel com
muffins de milho feitos por Mabel. O cesto estava forrado com um ninho de palha
de pinheiro, algumas folhas de carvalho, poucas conchas e caules compridos de
tifa. Kya inspirou. Crispou os lábios. Pulinho. Mabel.
O sol tinha se posto; não havia nenhum grão de poeira para acompanhar.
Mais tarde, Jacob veio recolher a bandeja do jantar.
— Ora, ora, Srta. Clark, a senhorita quase que não comeu nada. As costelas de
porco e as verduras estão bem boas.
Kya abriu um sorrisinho para ele, então ficou escutando seus passos soarem até
o fim do corredor. Esperou ouvir a porta grossa de metal se fechar de modo
pesado e definitivo.
Mas algo se moveu pelo chão do corredor, bem do outro lado das barras. Os
olhos dela se viraram para lá. Justiça de Domingo estava sentado, encarando com
seus olhos verdes de gato os olhos escuros dela.
O coração de Kya acelerou. Várias semanas trancafiada sozinha e agora aquela
criatura dava um jeito de surgir feito um mago por entre as barras. Para estar com
ela. Justiça de Domingo desviou os olhos e os voltou para o corredor, em direção
à conversa dos detentos. Kya ficou apavorada que ele a deixasse e fosse até lá. Mas
o gato a encarou outra vez, piscou com um tédio obrigatório e passou com
facilidade por entre as barras. Entrando na cela.
Kya soltou o ar e sussurrou:
— Por favor, fique.
Sem pressa, ele percorreu a cela, farejando, examinando as paredes úmidas de
cimento, os canos expostos e a pia, fazendo questão de ignorá-la o tempo todo.
Uma rachadura discreta na parede era mais interessante. Ela soube disso porque os
pensamentos dele transpareciam na sua cauda agitada. Ele concluiu o tour pela
cela junto à cama pequena. Então, do nada, pulou para o colo dela e girou,
pressionando suavemente as patas grandes e brancas nas suas coxas. Kya ficou
sentada sem se mexer, com os braços levemente erguidos para não interferir nos
movimentos do gato. Por fim, ele se acomodou como se ali houvesse sido seu
ninho em todas as noites da vida. Olhou para Kya. Com toda delicadeza, ela
tocou sua cabeça, então acarinhou seu pescoço. Um ronronar alto irrompeu feito