pensara que ninguém fosse notar.
— Não, nada, eu só esbarrei numa porta no...
— Não me venha com historinha, Srta. Kya. Eu não sou bobo não. Quem
que bateu na senhorita desse jeito?
Kya ficou em silêncio.
— Foi o Sr. Chase que fez isso, foi? A senhorita sabe que pode me contar, né?
Na verdade, a gente nem vai sair daqui se a senhorita não me contar que que
aconteceu.
— Sim, foi o Chase.
Kya mal conseguiu acreditar que as palavras tivessem saído da sua boca. Jamais
pensara que teria alguém a quem contar essas coisas. Tornou a se virar para o
outro lado, segurando o choro.
O rosto inteiro de Pulinho se franziu. Ele passou vários segundos sem dizer
nada. Então perguntou:
— Que mais que ele fez?
— Nada, eu juro. Ele tentou, Pulinho, mas eu lutei e consegui escapar.
— Esse cara precisa levar uma boa de uma surra e ser expulso da cidade,
senhorita.
— Por favor, Pulinho. Você não pode contar para ninguém. Sabe que não
pode contar para o xerife nem para ninguém. Eles me arrastariam até o escritório
do xerife e me fariam descrever o que aconteceu para um bando de homens. Eu
não conseguiria passar por isso.
Kya enterrou o rosto nas mãos.
— Bom, Srta. Kya, mas alguma coisa tem que ser feita sim. Ele não pode fazer
essas coisas e depois ficar passeando por aí naquela lancha dele metida à besta. O
Rei do Mundo.
— Pulinho, você sabe como as coisas são. Vão ficar do lado dele. Vão dizer
que eu estou só criando problemas. Tentando arrancar dinheiro dos pais dele ou
algo assim. Pensa só no que iria acontecer se alguma das moças de Colored Town
acusasse Chase Andrews de agressão e tentativa de estupro. Ninguém faria nada.
Zero. — A voz de Kya foi ficando cada vez mais aguda. — Tudo terminaria
numa baita encrenca para a moça. Matérias no jornal. Pessoas acusando ela de ser
prostituta. Bom, para mim seria a mesma coisa, e o senhor sabe. Por favor, me
prometa que não vai contar para ninguém.
Ela concluiu com um nó na garganta.
— A Srta. Kya está certa. Está sim. Não tem que se preocupar que eu vou
fazer nada para piorar ainda mais essas coisas. Mas como pode saber que ele não
vai atrás da senhorita outra vez? Com a senhorita sempre sozinha por lá?
— Eu sempre me protegi. Só bobeei dessa vez porque não ouvi chegando.
Vou tomar cuidado, Pulinho. Se eu decidir ir a Greenville, quando voltar talvez
eu fique um tempo no meu chalé de leitura. Acho que Chase não sabe da
existência dele.
— Está bem então. Mas quero que a senhorita apareça aqui mais vezes e quero
que diga para mim como as coisas estão. A senhorita sabe que pode sempre ficar
com Mabel e comigo, sabe disso, né?
carla scalaejcves
(Carla ScalaEjcveS)
#1