54.
Vice-versa
1970
Tom acenou em direção às cadeiras diferentes umas das outras numa salinha de
reunião, oferecendo assentos a Tate, Jodie, Scupper e Robert Foster. Eles se
sentaram em volta de uma mesa retangular com manchas de canecas de café. As
paredes tinham dois tons de gesso esfarelado: verde-limão no alto e verde-escuro
rente ao chão. Um cheiro de umidade — oriundo tanto das paredes quanto do
brejo — permeava o recinto.
— Vocês podem esperar aqui — disse Tom, fechando a porta ao entrar. —
Tem uma máquina de café no fim do corredor em frente à sala do perito, mas não
presta para nada. A lanchonete serve um café razoável. Vamos ver... São onze e
pouco. Vamos combinar o almoço mais tarde.
Tate foi até a janela fechada por uma trama quadriculada de barras brancas,
como se outras pessoas que haviam aguardado vereditos tivessem tentado fugir.
Perguntou para Tom:
— Para onde levaram Kya? Para a cela dela? Precisa esperar lá sozinha?
— Sim, ela está na cela. Vou vê-la agora.
— Quanto tempo acha que o júri vai levar para chegar a uma decisão? — quis
saber Robert.
— Impossível dizer. Quando você acha que vai ser rápido eles levam dias e
vice-versa. A maioria dos jurados já deve ter decidido... e não a favor de Kya. Se
alguns tiverem dúvidas e tentarem convencer os outros de que a culpa não foi
provada em definitivo, então temos chance.
Eles balançaram a cabeça em silêncio, sentindo o peso da expressão em
definitivo, como se a culpa houvesse sido provada, só não totalmente.
— Está bem — continuou Tom. — Vou falar com Kya e começar o trabalho.
Preciso preparar a petição de recurso e até uma petição para anular o julgamento
devido a preconceito. Por favor, não esqueçam: se ela for condenada, não é o fim.
De modo algum. Vou ficar indo e vindo e com certeza aviso a vocês se houver
alguma notícia.
— Obrigado — disse Tate. Então tornou a falar: — Por favor, avise à Kya que
estamos aqui e que podemos ficar com ela se quiser.