de aviação próprias para áreas pantanosas que ele ainda não tinha visto surgiu em
alta velocidade. O barco deslizava e escorregava de lado acima da água, acima até
do mato, espirrando um leque de água atrás. Fazendo o barulho de dez sirenes.
Amassando arbustos e capim, a embarcação interrompeu sua trajetória pelo
brejo e então entrou no estuário em alta velocidade. Garças-azuis e outras
menores grasnaram. Três homens estavam em pé no leme e, ao verem Tate,
viraram na sua direção. Quando estavam se aproximando, ele reconheceu o xerife
Jackson, o delegado e um terceiro homem.
A popa do barco vistoso afundou quando ele diminuiu a velocidade e se
aproximou devagar. O xerife gritou algo para Tate, mas mesmo com as mãos em
concha junto às orelhas e inclinando-se na direção deles Tate não conseguiu
escutar, tamanho o estrondo. Eles chegaram ainda mais perto até o barco ficar
boiando ao seu lado, jogando água nas suas coxas. O xerife se abaixou, berrando
alguma coisa.
Ali perto, Kya também ouviu aquele barco estranho e, ao ir na sua direção,
viu-o se aproximar de Tate. Recuou para o meio de uns arbustos e o observou
ouvir as palavras do xerife e então ficar totalmente imóvel, com a cabeça baixa e
os ombros frouxos, rendido. Mesmo daquela distância, notou desespero em sua
postura. O xerife tornou a gritar e Tate enfim estendeu o braço e deixou o
delegado puxá-lo a bordo da embarcação. O outro homem pulou dentro d’água e
depois subiu na lancha de Tate. Com o queixo encolhido e os olhos baixos, Tate
ficou parado entre os dois homens uniformizados enquanto eles davam meia-volta
e tornavam a atravessar o brejo em alta velocidade na direção de Barkley Cove,
seguidos pelo terceiro homem, que conduzia a lancha de Tate.
Kya ficou olhando até as duas embarcações desaparecerem atrás de uma ponta
de sargaço. Por que haviam detido Tate? Será que tinha a ver com a morte de
Chase? Será que o haviam prendido?
A agonia a dilacerou por dentro. Finalmente, após uma vida inteira, ela
admitiu que era a possibilidade de ver Tate, a esperança de fazer uma curva num
córrego e encontrá-lo no meio dos juncos, que a atraíra para o brejo todos os dias
desde que tinha sete anos. Ela conhecia as lagoas preferidas dele e os caminhos
que ele gostava de fazer pelo meio dos lamaçais difíceis, e sempre o seguia a uma
distância segura. Vivia escondida, roubando o amor. Sem nunca compartilhá-lo.
Não dá para se magoar quando você ama alguém do outro lado de um estuário.
Em todos os anos que o havia rejeitado, ela sobrevivia porque ele estava em
algum lugar do brejo, à espera. Mas talvez agora ele não fosse mais estar.
Ela ficou atenta ao ruído cada vez mais fraco daquela embarcação estranha.
Pulinho sabia tudo; ele saberia por que o xerife tinha levado Tate e o que ela
poderia fazer em relação a isso.
Kya puxou a cordinha do seu motor e saiu a toda pelo brejo.
carla scalaejcves
(Carla ScalaEjcveS)
#1