caldo do frango, tão grosso que chegava a ser redondo. Foi seu estômago agindo
por vontade própria que a fez se levantar entre as folhas de palmeira.
— Oi, meu bem. Eu sou a Sra. Culpepper. Você está bem grandinha e pronta
para ir para a escola, não é?
— Sim, senhora — disse Kya, com a cabeça baixa.
— Não tem problema, pode ir descalça, outras crianças também vão, mas
como você é menina tem que ir de saia. Tem um vestido ou uma saia, meu
amor?
— Sim, senhora.
— Então, ótimo, vamos vestir sua roupa.
A Sra. Culpepper seguiu Kya pela porta da varanda e teve que passar por cima
da fileira de ninhos de passarinho que a menina havia disposto ao longo das
tábuas. No quarto, Kya colocou o único vestido que cabia, uma jardineira xadrez
com uma das alças presas por um alfinete de fralda.
— Está ótimo, meu bem, você está ótima.
A Sra. Culpepper estendeu a mão. Kya ficou encarando a mão dela. Fazia
semanas que não tocava em outra pessoa, e nunca na vida havia tocado um
desconhecido. Mas pôs a mãozinha dentro da mão da Sra. Culpepper e foi levada
pela estrada até o Ford Crestliner conduzido por um homem calado de chapéu de
feltro cinza. Sentada no banco de trás, Kya nem sorriu nem se sentiu um pintinho
abrigado sob a asa da mãe.
Barkley Cove tinha uma escola para brancos. Do primeiro até o décimo
segundo ano, as crianças frequentavam uma escola de tijolos de dois andares que
ficava no outro extremo da Main em relação ao escritório do xerife. As crianças
negras tinham a própria escola, uma estrutura de cimento de um andar só perto de
Colored Town.
Quando Kya foi levada até a secretaria da escola, encontraram seu nome nos
registros de nascimento da cidade, mas não a data de nascimento, então a puseram
no segundo ano, apesar de ela nunca ter frequentado a escola na vida. De toda
forma, disseram, o primeiro ano estava cheio demais, e que diferença aquilo faria
para gente do brejo que passaria alguns meses na escola, talvez, para depois nunca
mais ser vista. Enquanto o diretor a acompanhava por um corredor largo no qual
os passos ecoavam, o suor brotou da sua testa. Ele abriu a porta de uma sala de
aula e lhe deu um empurrãozinho.
Camisas xadrez, saias amplas, sapatos, muitos sapatos, alguns pés descalços, e
olhos: todos a encarando. Ela nunca tinha visto tanta gente. Uma dúzia de
pessoas, talvez. A professora, a mesma Srta. Arial que aqueles meninos tinham
ajudado, acompanhou Kya até uma carteira quase nos fundos da sala. Ela podia
pôr suas coisas no escaninho, falou, mas Kya não tinha nada.
A professora voltou até a frente da sala e disse:
— Catherine, por favor, levante-se e diga à turma o seu nome completo.
O estômago da menina se revirou.
— Vamos, meu bem, não seja tímida.
Kya se levantou.
— Catherine Danielle Clark — falou, porque uma vez Ma dissera que aquele
carla scalaejcves
(Carla ScalaEjcveS)
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