Escola da Noite

(Carla ScalaEjcveS) #1

tinha um artigo anódino acerca da retirada progressiva de pessoal militar do
desfiladeiro de Fulda, perto de Frankfurt, onde, em tempos, haviam sido
previstas grandes e estonteantes batalhas de tanques. Agora, o inimigo
desaparecera e a fronteira avançara centenas de quilómetros para leste, como na
maré baixa, deixando as unidades da linha da frente desamparadas como peixes
na praia. Algumas tinham continuado a avançar, só por via das dúvidas,
enquanto outras tinham recuado em direção a gigantescos armazéns, onde
tinham sido postas na prateleira. Somente cinco equipas responsáveis por
baterias Chaparral continuavam ativas, incluindo a do militar ausente sem
autorização, que aparecia numa fotografia na parte de cima da notícia.
A fotografia não era um instantâneo, com a câmara instalada num ângulo
baixo, por trás dos homens e do respetivo veículo, tanto num caso como no
outro, voltados de costas, na direção de uma imaginada ameaça iminente. Os
mísseis no camião estavam prontos a disparar e apontados para a linha do
horizonte, com os tipos a olhar fixamente para o mesmo ponto no céu, uns com
binóculos e outros com as mãos a proteger-lhes os olhos, como se o sol estivesse
a subir. Como se quem estivesse a ver a fotografia se encontrasse encolhido de
medo vinte metros atrás deles, sob a sua proteção máscula e vigilante. Vistos de
trás, os homens pareciam formar um grupo recomendável, vigorosos,
determinados e enérgicos. Reacher conhecia gente de unidades semelhantes. A
experiência dizia-lhe que eles se comportavam a meio caminho entre artilheiros
normais e as equipas nos conveses de voo dos porta-aviões da marinha, em
grande atividade, misturado com um toquezinho de aviador rebelde à Top Gun.
Olhavam para os camiões como aviões estacionados. O moral e a coesão da
equipa costumavam ser elevados. Aqueles tipos em concreto tinham moicanas,
com penachos de cinco centímetros de largura a atravessarem-lhes os crânios de
outro modo rapados, tudo espetado com sabão ou cera. Não era propriamente
legal, de acordo com o Regulamento Militar 670-3-2, que indicava que os cortes
de cabelo deviam ser impecáveis e conservadores e que estilos extremos,
excêntricos ou caprichosos não eram autorizados. Mas, evidentemente, um
comandante sensato tinha preferido não fazer caso daquilo. Havia batalhas que

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