Escola da Noite

(Carla ScalaEjcveS) #1

espuma, cremosa. A navalha era perfeita. Sibilava, a um nível molecular. O
espelho era colorido, por isso, o resultado final parecia uma coisa bronzeada
quando seria provavelmente rosada. Mas, ainda assim, tinha um ótimo aspeto.
Digamos que foi um dólar, pensou Reacher. O que faz com que o corte de cabelo
ainda custe quatro. O que continua a ser um escândalo.
O tipo trocou a navalha pela tesoura e ocupou-se do cabelo de Reacher.
Reacher ignorou-o, preferindo olhar para a tabela. Com os vinte e quatro estilos.
Foi passando de um para o outro, pela ordem em que surgiam, deslocando
apenas os olhos, com atenção, como se os estivesse a estudar, desde o básico
número um, no início, até à poupa fantasticamente complexa no fim da escala.
Olhou outra vez para a moicana.
— O que acha? — perguntou o homem.
— De quê? — retorquiu Reacher.
— Do seu novo corte de cabelo.
Reacher olhou-se ao espelho. E perguntou:
— Mas já o cortou?
— Duvida disso?
— Não parece ter acabado de ser cortado.
— Exato — respondeu o tipo. — Os melhores cortes de cabelo são os que
parecem ter sido feitos há uma semana.
— Então quer dizer que pago cinco dólares por um corte em que o cabelo
parece já ter voltado a crescer?
— Isto é um salão. Sou um artista.
Reacher ficou calado.
Voltou a olhar para a moicana.
A seguir, enfiou a mão no bolso e deu ao homem cinco dólares americanos,
perguntando-lhe:
— Tem algum telefone?
O outro apontou para a parede. Um velho telefone público americano. Todo
de metal. Para estar do lado de fora de uma estação de serviço e não dentro de
uma barbearia, mas era a intenção que contava.

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