Escola da Noite

— Consideras que as línguas são o teu forte? — perguntou o gordo.
— Não me compete a mim afirmá-lo — respondeu ela.
— Quem te treinou afirma que a tua memória é excelente e que percebes de
números.
Ela não respondeu.
Não queria falar de números.
Naquele momento, não.
— Quem te treinou não estava a dizer a verdade? — perguntou o gordo.
— Foram muito amáveis. Mas excessivamente generosos. Pouco percebo de
números.
— E porque dizes isso?
Ela não respondeu.
— Explica-me.
— Antes de Hamburgo, querem que eu vá a Zurique. Onde também falam
alemão. A um banco. Transferir dinheiro para o Wiley. Com números. Números
de conta e códigos. E é assim que eu vou poder autorizar a recolha.
— E pretendes recusar?
— Precisaria de saber o preço.
— Claro que precisarias. É um dos quatro elementos importantes. O nosso
número de conta, o nosso código, a quantia e o número de conta do destinatário.
Eu sei que é muita coisa para decorar, mas, no fundo, trata-se de uma transação
muitíssimo simples.
— Vocês não gostam quando as pessoas sabem o preço.
O gordo ficou calado.
— Vou ser sacrificada — afirmou a mensageira.
— Se nós recebermos o que queremos, não. Desta vez, é diferente. Se o
negócio for bem-sucedido, estarás sempre associada a ele. Estaremos todos.
Transformar-nos-emos em mitos e lendas. Serão contadas histórias de geração
em geração. E o preço será reverenciado por ter sido uma pechincha. Será
celebrado. As rapariguinhas vão fingir que são tu. Vão fazer jogos em que
transferem o dinheiro. As raparigas vão saber que também são capazes de fazer