Escola da Noite

(Carla ScalaEjcveS) #1

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Wiley tirou o cadeado do fecho no meio da porta, depois o do ferrolho de
cima e, por fim, o do de baixo, abrindo a porta com um empurrão e enfiando-se
lá dentro. Sentia-se calmo. Aguardavam-no simples tarefas mecânicas. Em
primeiro lugar, vinham as matrículas. Retirou as novas da carrinha alugada e
substituiu-as pelas do velho BMW. A seguir, sacou das latas de spray, compradas
na loja de ferragens, verdes e amarelos berrantes, cor de laranja, vermelho e
prateado. Pintou umas iniciais gordas na parte lateral da carrinha, as dele, só
porque lhe apetecia e pronto, mas pela ordem inversa, WH, todas inchadas como
balões, como se via nas carruagens dos metros. Sombreou as letras a prateado,
pintou umas espirais ao acaso em pano de fundo e acrescentou um S gordo e um
L gordo, como se fosse a assinatura de um segundo artista, só que não era. Era
Sugar Land, ali escarrapachado na carrinha, e porque não? Era de onde ele vinha
e era para onde ele ia.
Em jeito de toque final, pintou uma camada de cinzento por cima de tudo o
resto, para serenar a coisa e para lhe dar mais idade. Recuou. Sentia-se tonto dos
gases dos aerossóis. Mas estava satisfeito. Aquilo já não era uma carrinha branca
nova. Era um pedaço de sucata urbana. Que já nem sequer justificaria que quem
passasse por ele lhe deitasse um olhar. Não é que alguém fosse passar por ele.
Estava toda a gente no hotel. Haveria uma imensidão de forças da lei e
perímetros de toda a espécie. Com bombeiros e brigadas de intervenção no
centro de tudo, por causa dos tiros de pistola e da gasolina a arder. Mais toda
uma série de seguranças, mirones e caçadores de fama e glória. Eu estava lá,

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