escanzelado, diriam na televisão. Possivelmente, carregado de energia;
possivelmente, de comportamento nervoso e capaz de explosões de violência.
Estava a formar-se um retrato.
E o melhor de tudo era que a medida linear entre as lesões nas nádegas e nos
cotovelos da vítima correspondia, de forma evidente, à distância exata entre a
base pontiaguda da cintura pélvica do agressor e as rótulas deste. O que, após as
deduções da praxe relativas às articulações em causa, veio a indicar o
comprimento exato do fémur do homem. E o comprimento do fémur era
considerado um guia infalível para a altura de uma pessoa.
O agressor media um metro e setenta e três. Em termos americanos, cinco
pés e oito polegadas. E o fator americano devia ser tido em conta, já que a vítima
era prostituta. Os soldados ainda tinham dinheiro para gastar. Mas, em todo o
caso, não se tratava de um anão nem de um gigante.
O médico-legista anexou uma nota pessoal às costas do processo. Não era
uma prática habitual, mas deixou-se levar um pouco pelo entusiasmo. A nota
dizia que, na opinião dele, o culpado era um homem destro de estatura média, e
provavelmente com peso inferior ao normal, dotado de uma estrutura óssea
pronunciada e de um físico forte, mas seco em vez de musculoso. Talvez como
um corredor de fundo.
A seguir, o médico-legista selou o processo dentro de um envelope e pediu
que o entregassem de imediato, por bicicleta, na polícia, ao chefe dos detetives
da cidade.
O chefe dos detetives não ficou radiante por recebê-lo. De início, não. Ficou
mais entusiasmado depois. Chamava-se Griezman. Consideravam-no bem-
sucedido. O departamento dele possuía uma impressionante taxa de êxito de
noventa por cento. Mas, naquele caso, Griezman não queria nada
impressionante. Queria uma investigação curta e depois queria ver o assunto
bem longe, do outro lado do fosso, bem dentro dos dez por cento de falhanços
antigos e esquecidos.