Provavelmente, havia ali vinil, para poupar dinheiro. Mas áspero e irregular,
como as áreas visíveis. Granulado, como devia ser. Talvez não fosse uma
superfície ideal para impressões digitais. Talvez não houvesse problema.
A lingueta do cinto de segurança tinha o feitio de um T. O travessão era de
plástico preto, granulado como lixa fina. Para poder ser agarrado, supôs. Uma
norma qualquer. Tranquilo. E depois, mais tarde, o botão do fecho. O polegar
esquerdo. Lembrou-se de carregar nele. O cotovelo para trás, o polegar
trapalhão. Uma barra vermelha de plástico, firme e com arestas.
Uma coisa parcial, na pior das hipóteses. Talvez esborratada quando a ponta
do casaco lhe passou por cima. Lembrou-se sobretudo de fazer pressão com a
unha. Para baixo e na vertical. Sem pressas. Pausado. Lento, até. Um cliquezinho
preciso, para não destoar do carro, que mais parecia uma peça de joalharia. E
para deixar que a expectativa crescesse. Antes de desembrulhar o presente. De
muitas maneiras, os momentos preferidos dele.
O fecho do cinto de segurança era tranquilo.
Mas o fecho da porta, não. O fecho da porta era uma pequena barra cromada,
fria, com um espaço por trás destinado aos dedos. No caso dele, o dedo médio da
mão direita. Enfiado ali, sozinho, elegantemente, achou, até sugestivamente, e, a
seguir, deixado lá ficar durante um educado segundo, do género vamos?, com a
almofada inteira da ponta do dedo a carregar com força a parte de trás do
cromado, e depois ainda com mais força, para destrancar a porta, outro clique
preciso e respeitoso, com o dedo a libertar-se por fim, com igual elegância,
pensou.
Nada esborratado.
Um cromado liso e frio.
Estúpido.
Culpa dele.
carla scalaejcves
(Carla ScalaEjcveS)
#1