O mais feio | 111
A cobra e o tico-tico-rei
Meu irmão Tadeu e eu descíamos pelo estreito caminho, cerca-
do de capim, que ligava a estradinha de terra à casinha (quase tapera)
onde morava nosso tio Rômulo, que na realidade era nosso tio-
avô, um italiano que vivia só, a uns quinhentos metros da venda
da Helena, nossa avó paterna. Algo me chamou a atenção pela cor
que destoava do capinzal. Era um tico-tico-rei todo vermelho. Es-
tava paradinho na beira do capinzal e não esboçou a menor reação
enquanto o pegávamos com as mãos.
Nem fomos mais à casa do tio. Voltamos imediatamente para
nossa casa gritando pelo nosso pai. Meu pai passou água fria pela
cabeça do tico-tico, molhando seu lindo topete vermelho vivo e,
depois, fazendo uso de um contagotas, deu-lhe um pouco de leite
gordo. Rapidamente o tico-tico se recuperou e ganhou lugar em
uma gaiola que estava vazia. Passou a ser nosso pássaro preferido,
entre pintassilgos, canários, azulões, sabiás-laranjeiras e tantos ou-
tros que vinham e iam. Alguns só ficavam nas gaiolas o tempo de
se curar de algum ferimento, outros tinham a má sorte de agradar
as crianças ou adultos e irem ficando, indefinidamente, sem data
marcada para a soltura.
Tio Rômulo e, por unanimidade, todos os empregados do sítio
disseram que corremos grande risco pegando o passarinho pois,
certamente, ele estava hipnotizado por alguma cobra que queria
comê-lo e essa deveria estar muito próxima, escondida no mato.
Isto me intrigou muito, como uma cobra fazia para hipnotizar um
pássaro, um rato, um preá? Ninguém sabia responder e passei a