Causos do Cabete

(Bruno Cabete) #1
O palhaço da Folia de Reis | 13

O palhaço da Folia de Reis


Naquele final de tarde o Milton estava muito pensativo. Termi-
nou sua lida diária tirando o burro do arado e soltando-o no pi-
quete com o merecido prêmio de quatro espigas de milho. Pegou
um balaio de milho, colocou nas costas e dirigiu-se ao chiqueiro.
Jogou as espigas aos porcos e antes que a última caísse ao chão já
estava caminhando em direção à sua casa. Parou junto à bica de
água e tirou o grosso da poeira do rosto e dos braços.
No interior da modesta e limpíssima casinha com piso de saibro
socado já tremia a tênue luz de uma lamparina a querosene. O
Milton entrou calado, sentou-se à mesa na sua cadeira predileta,
que ficava ao lado da janela, por onde podia observar as estrelas e
o luar da noite clara e quente.
A comida foi rapidamente servida por suas irmãs entre um e
outro comentário sobre a porca que havia parido e os bernes da
vaca malhada, que foram curados com óleo queimado cedido pelo
homem do caminhão que recolhia os latões de leite.
O Milton só ouvia e comia o arroz com feijão e pele de porco,
colherada após colherada. A coxa de frango reservou para o final.
Terminado o jantar sentou-se do lado de fora da casa, tomou um
café com rapadura e fumou calmamente um bem enrolado cigar-

Free download pdf