O palhaço da Folia de Reis | 15
ro-de- palha. Esperou exatamente duas horas após o jantar, foi
tomar um “banho de caneca” e colocar seu pijama listrado de azul
e branco.
Pela abertura do forro afofou as palhas de milho desfiadas, do
enchimento de seu colchão, fazendo o típico barulho que avisava
a todos da casa sem forro que estava na hora de fazer silêncio e
apagar as lamparinas.
Quem dorme em colchão de palha cria o hábito de não se me-
xer. Tem que ficar bem quietinho pois a cada mexida o barulho
das palhas informa à casa inteira que tem alguém acordado. Na-
quela noite não teve jeito. O Milton se remexeu por um bom tem-
po pensando na promessa que havia feito ao pai em seu leito de
morte dois anos atrás. Só parou de se remexer quan-
do tomou a decisão de sair como palhaço na Fo-
lia de Reis daquele ano, assumindo assim o com-
promisso de pagar uma promessa que seu pai
havia feito em vida e que ele havia se compro-
metido a pagar mas vinha adiando, pois era
muito reservado e não se via fazendo as
estripulias de um palhaço de Folia de Reis.
O tempo de preparação foi curto pois já estavam
em novembro. As irmãs costuraram a mão a fantasia
e com a ajuda de uns vizinhos ele conseguiu fazer uma
máscara bem rudimentar e colorida. Feia como convém a
um palhaço de Folia de Reis.
Acertado com a Companhia de Foliões pediu licença ao patrão
para se ausentar do serviço, explicando que era motivo de força
maior pois tinha de cumprir a promessa feita pelo pai. Não sabia
qual era a graça pedida pelo mesmo e nem se a havia alcançado ou
não mas, promessa feita tem que ser cumprida. Nas andanças da
Companhia descobriu que só dava para desempenhar bem o papel
do palhaço após um meio litro de Tomba Perna, cachaça da boa!
Assim foi que o Milton cumpriu a promessa do pai mas tornou-se
um alcoólatra.
O caboclo de mãos calejadas e pele grossa do sol já não era mais
o mesmo responsável e trabalhador de sempre. A garrafa de ca-