O palhaço da Folia de Reis | 17
Bolo com raspa de laranja
Vocês se lembram daqueles bolos deliciosos em que ralavam a
casca da laranja pra colocar por cima dele? Coisa fina!
Pois é, lá no sítio tínhamos aquele belo forninho de barro com a
boca em arco, um tablado de pranchas grossas e robustas pra deixá-
lo na altura adequada e, por cima, um telhadinho caprichado onde
os sabiás faziam ninhos e se pendurava toda sorte de sucata de
arame, panela furada, urinó velho, bola de cobertão furada e coisa
e tal.
Este forno era a alegria da criançada. Dele saíam biscoitos,
rosquinhas de nata, pão de queijo, bolos de fubá com nata, pernil
de porco e tantas outras coisas boas. Tudo corria bem até que a
dona Chiquinha, muié do seu Dito Areia, resolveu fazer aquele
bolo com raspa de laranja.
Tínhamos por lá duas pequenas laranjeiras com folhas e la-
ranjas muito cheirosas, mas que ninguém nunca usava pra nada.
Não serviam pra chupar, nem pra suco. E, pra fazer doce a
mulherada achava que as laranjas eram pequenas e davam muito
trabalho pra limpar.
Pois num é que a dona Chiquinha pegou bem destas laranjas pra
ralar a casca sobre o bolo? A laranjinha tinha um sumo absurda-
mente forte! O cheiro rescendeu por toda a casa.
A forma de bolo foi pro forninho previamente testado com a
palha de milho que se joga lá dentro e não pode incendiar, senão o
forninho está muito quente... Meia hora depois dona Chiquinha
foi abrir a tampa do forno pra ver se já tinha corado e...
Buuummmm!
Foi uma grande explosão e um fogaréu que saiu pela boca do
forninho de barro! Era o sumo da laranja que evaporou e saiu
como uma grande labareda, que queimou todo o cabelo da dona
Chiquinha... Ela ficou carequinha, parecida com porco sapecado!
Passou-se o tempo e nada de nascer cabelo novo...
Com um seis meses a cabeça da dona Chiquinha começou a