Causos do Cabete

(Bruno Cabete) #1
CausosdoCabete | 40

Mas teve um dia que o Castelo fez o que parecia impossível.
Bem no meio no pasto tinha uma árvore linda, enorme, com trinta
metros de diâmetro de copa. Era um Óleo de Copaúva, com ga-
lhos que chegam bem perto do chão. Naquele dia, o meu irmão já
pressentindo que o Castelo ia dar trabalho, levou umas espigas de
milho como atrativo. Andou por todo o pasto e nada. Bateu todas
as cercas pra ver se tinha alguma arrombada e, cadê o Castelo?
Depois de horas de caminhada resolveu descansar sob o olhão
(leia ólhão) que é como conhecíamos aquela árvore única. Meu
irmão tirou o embornal com as espigas de milho, catou umas
gabirobas para adoçar a boca e sentou sob a árvore, encostando
ao seu tronco. Qual não foi o seu susto quando viu, a uns cinco ou
sete metros de altura, na árvore, o danado do Castelo bem quieti-
nho se equilibrando em dois galhos que partiam desde o chão! O
burro tinha aprendido a subir na árvore pra se esconder e não ir
trabalhar!
É a pura verdade. Nesta mesma época, meu pai, que era assíduo
leitor de Chácaras e Quintais, viu em uma destas revistas um paiol
de milho que era à prova de rato. Mais que depressa derrubou um
belo eucalipto e o transformou em tábuas, caibros e vigas na quan-
tidade necessária para o miraculoso paiol. Ficou uma beleza. Mon-
tado sobre pilastras de cimento, o intento era impedir a subida dos
ratos. Tinha uma escada de cimento afastada do paiol e a porta
descia sobre a escada como nos antigos castelos medievais. Com a
porta fechada, não tinha como os ratos entrarem... Até que um
dia, o paiol deixou de ser novidade e o vão sob ele passou a servir
para guardar lenha e um monte de quinquilharias que deveriam
ser jogadas fora. Tinha alguém que sempre dizia: ‘guarda debaixo
do paiol que uma hora serve para alguma coisa’. Aí foi uma festa
para os ratos. Tinha uns que pareciam preá, de tão grandes e gordos.
Foi aí que meu pai se esqueceu que o paiol era “à prova de rato”
e resolveu arrumar uma gata de três cores, as melhores para tal
função. No início foi um sucesso. A cada dia a danada matava pelo
menos uns três. Era uma malabarista na arte da caça. Dava uns
saltos espetaculares dentro do paiol e daí a pouco saía com um

Free download pdf