CausosdoCabete | 50
comer carne e que os ovos estavam sendo reservados para chocar
uma ninhada de pintinhos. O Mané não se apertou.
Finalzinho do dia, encerrado o trabalho e dispensados os peões,
o Mané tomou um bom banho, colocou uma roupa limpa e foi até
a venda do “seu” Joaquim, típica venda de roça que tinha de tudo
um pouco. Caderneta de fiado já estourada, sem crédito na venda
ele chegou e ficou assuntando o movimento e as prosas. Quando
o movimento diminuiu e seu Joaquim estava fazendo anotações
no livro de fiados o Mané perguntou:
- Seu Joaquim, qual o melhor bacalhau que o senhor tem?
Seu Joaquim, absorto em suas contas, respondeu: - O melhor bacalhau é o de minha querida terra, o português, é
claro! - O senhor poderia me arrumar um caixote vazio deste baca-
lhau? – emendou o Mané.
Seu Joaquim foi até os fundos da venda e voltou com um dos
fedidos caixotes de bacalhau.
O Mané voltou para o sítio serrou o caixote em pequenas tábuas
de cerca de cinco centímetros e entregou à Dorinha uma cesta
cheia daquelas ripinhas com a recomendação: - Amanhã é dia de jejum e abstinência, faça uma boa sopa de
bacalhau para as crianças!
A Dorinha ficou olhando incrédula para aquelas ripinhas fedi-
das e levou um tempo até “cair a ficha”.
No dia seguinte, no almoço, teve uma deliciosa sopa de legumes
com sabor e cheiro de bacalhau. No caderno de receitas da Dorinha
ainda existe, até hoje, a receita: “Sopa de caixote de bacalhau”.