Causos do Cabete

(Bruno Cabete) #1
Coitada da moça... | 73

Coitada da moça...


Alisson acordou mais cedo naquele dia, talvez pelo cansaço do
dia anterior. Junto com seu irmão mais novo Antônio e com o
vizinho Raimundo havia puxado quatro carretas de raízes de árvo-
res de uma nova gleba que seu tio estava limpando e descarregado
na pedreira. Êta coisa desajeitada para se lidar esta soca de árvo-
res! De todo jeito que se pega tem sempre uma raiz a lhe cutucar.
Fica-se torcendo para encontrar alguma cobra no meio das galhadas
e garantir o almoço.
Com a mão em concha jogou dois punhados de água na boca e
um no rosto para espantar o sono. Cutucou o Antônio e enquanto
ele se aprumava pegou a velha foice e no escuro foi até a moita de
palma e cortou um punhado que colocou no balaio e deixou do
lado de fora da porta da cozinha. Aquele seria o almoço do dia
para seus outros sete irmãos mais novos que ficariam com sua
mãe. Seu pai tinha ido para São Paulo há dois anos, quando ele
ainda tinha treze anos e nunca mais deu notícias.
Apesar de todo o cansaço Alisson estava feliz e até arriscava
uma “Mulher Rendeira” no assobio. O seu Deusdeti, do açougue
lá da vila, havia encomendado umas vinte latas de brita para a am-
pliação que estava fazendo no seu comércio e tinha pedido da brita
mais fina que valia R$ 0,15 cada lata de vinte litros bem cheia.

Free download pdf