Causos do Cabete

(Bruno Cabete) #1
Os pernilongos de Vassanunga | 95

ção que bagunçou tudo. A unha se partiu em duas e no final da
história, após quase três meses, o Napoleão estava com o seu curioso
dedo duplo como se tivesse brotado um do outro. Teria algo a ver
com os resíduos de brotos de uva e café na lâmina de sua brítola?
Nunca saberemos.
Vejam bem o desastre que os pernilongos provocaram. Mas só
estou a lembrar-me disto tudo porque ontem, voltando de Campinas
após ter ido viajar ainda de madrugada, senti um sono muito grande
quando estava chegando a Santa Rita de Passa Quatro, pela Rodovia
Anhanguera. Sabendo que não daria para continuar viagem naquele
estado decidi parar na reserva de Vassununga para fazer uma visita
aos milenares jequitibás rosa.
Estacionei o carro na entrada da reserva, cumprimentei o porteiro
e fui caminhando pela deliciosa e muito bem cuidada estradinha que
nos leva aos jequitibás. A certa altura percebi que estava sendo ataca-
do pelos pernilongos e outros mosquitos chupadores de sangue. Era
mais de uma dúzia em cada braço.
Matava e espantava os de um braço e partia para o outro braço,
quando terminava o primeiro estava lotado novamente. Mesmo as-
sim segui até o frondoso jequitibá de três mil anos de idade e depois
fui ao campo de jequitibás onde se agruparam vários deles e existem
dois caídos a décadas que nos dão uma idéia melhor da grandiosidade
destas árvores. Na volta, a briga com os pernilongos ficou terrível,
acho que a notícia de carne fresca já havia corrido pela mata e eles
faziam fila para me chupar. Fui brigando muito com eles e apressei o
passo para me retirar da mata. Percebi que estranhamente os
pernilongos se concentravam mais em meu braço esquerdo. Na por-
taria ainda brinquei com o porteiro dizendo que ele havia passado
um rádio aos pernilongos, avisando-os que o almoço havia chegado.
Tomei meu carro e terminei a viagem até Ribeirão.
Chegando em casa estava contando do rápido passeio à Cristina,
minha esposa, e do estranho fato dos pernilongos preferirem meu
braço esquerdo quando ela chamou a atenção para algo estranho em
meu braço. Logo acima do cotovelo esquerdo havia um finíssimo
cipozinho amarrado, formando um eficiente garrote, para represar
mais sangue na parte inferior do braço! Se não tivesse ocorrido co-
migo, eu não acreditaria!

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