objetos de arte e artefatos africanos, indígenas e greco-romanos, coleções de
paleontologia, entomologia e botânica.
Enquanto as chamas ardiam com violência, cinzas espalharam-se pela região da Quinta
da Boa Vista, onde fica o museu. Alguns detritos voaram até uma distância inesperada.
Um deles foi parar, misteriosamente, na varanda de um apartamento localizado na
Praça Saenz Peña, no bairro da Tijuca, a doze minutos de carro do local do incêndio.
Era uma pequena placa carbonizada com besouros.
Logo que tomou conhecimento do paradeiro da placa, a pesquisadora Marcela Laura
Monné Freire, professora do Museu Nacional – que é vinculado à Universidade Federal
do Rio de Janeiro (UFRJ) –, entrou em contato com a moradora do apartamento para
recuperar o material. “Aquilo era tudo que restara fisicamente da coleção de besouros
que estava no museu”, ela conta. Monné Freire é filha do pesquisador uruguaio Miguel
Monné, um dos principais responsáveis pela coleção de entomologia, que abrigava 12
milhões de insetos e foi quase toda destruída – perdeu 98% dos itens.
Por esse motivo, os entomólogos do museu comemoraram em dezembro passado a
chegada de quatro caixas vindas da Alemanha. Dentro delas havia 1 548 besouros
doados pelo Instituto Alemão de Entomologia Senckenberg (SDEI), em Müncheberg.
“Os exemplares poderão ser utilizados em estudos científicos de alunos do museu e de
pesquisadores de outras instituições nacionais ou estrangeiras”, disse Monné Freire.
Os besouros atravessaram o Atlântico trazidos pela entomóloga Marianna
Vieira dos Passos Simões, curadora da coleção de coleópteros da entidade alemã.
Foram escolhidos a partir de uma lista feita por profissionais do Museu Nacional, que
indicaram quais os grupos mais relevantes para a entidade. Após a seleção, os insetos
preservados a seco foram alfinetados nas quatro caixas, com etiquetas de identificação
e fundo apropriado para o transporte de material entomológico – e despachados para o
Brasil. “Foi uma curadoria demorada e laboriosa, mas extremamente gratificante”, diz
Simões, que foi aluna do Museu Nacional.
Alguns exemplares são de espécies que correm risco de extinção, como o Rosalia alpina,
um bichinho cuja suntuosa coloração azul, pontuada por manchas pretas, se estende
em todo seu corpo delgado até as longas antenas. Outros são considerados pragas na