Em depoimento a Ana Clara Costa
Meu pai se chamava Francisco Valderi Fernandes de Lima. Morávamos em
Itapevi, no interior de São Paulo, com meus dois irmãos e minha mãe. Meu pai sempre
esteve envolvido em política, sobretudo a local. Foi vereador pelo MDB, atuava em
eleições e tinha muitos adversários na vida pública. Antes de entrar para a política, ele
teve uma trajetória vitoriosa. Foi pedreiro, mestre de obras, até criar a própria
construtora, que prestava serviço para o setor privado e para a prefeitura. Tínhamos
um padrão de vida razoável. Chegamos a ter bons carros, cerca de vinte casas e um
posto de gasolina, que ganhamos depois que meu pai fez algumas obras para a Shell.
Quando ele decidiu entrar para a política, tudo isso se perdeu. Durante anos, vivemos
numa gangorra. De repente, da noite para o dia, tínhamos que vender tudo para pagar
dívidas contraídas em campanhas. A construtora fechou e ele passou a trabalhar
facilitando o caminho de outras empreiteiras que queriam participar de licitações, o
que lhe rendia boas comissões.
Nesse período difícil, meu pai começou a enfrentar também as campanhas de
difamação, que acabavam afetando a nossa família. Ele foi alvo de processos de
improbidade administrativa por razões políticas, e nós sofríamos as consequências
públicas dessas acusações. Minha mãe, com quem ele se casou muito antes de ter
qualquer bem, pedia que ele deixasse a política. Ele sempre resistiu. A certa altura, ela
decidiu que não queria mais viver daquela forma e pediu a separação. No início da