® Piauí ed. 185 [Riva] (2022-02)

(EriveltonMoraes) #1

continuou movimentando a MB Guassu, mesmo com ambos os sócios falecidos. (Em
outubro de 2021, depois das investigações da CPI, uma empresa que foi lesada pela turma de
Tolentino protocolou um documento na Junta informando sobre a morte dos dois acionistas. A
empresa lesada está em busca de indenização.)


A CPI colocou em evidência que muitos daqueles negócios dos quais meu pai
participava pareciam ser formas de arrancar dinheiro do poder público. Eram
empresas que existiam, mas não produziam nada de fato. Tratava-se apenas de um
amontoado de CNPJs sendo movimentados por indivíduos sem que houvesse uma
atividade empresarial nítida por trás – a exceção era o FIB Bank, que, de fato, operava.
Havia clientes reais em busca de suas garantias, embora a CPI tenha mostrado que nem
todos eles puderam acionar a fiança oferecida, quando isso se fez necessário.


Todos os envolvidos na compra da vacina Covaxin eram ligados, de alguma forma, a
Marcos Tolentino. Os documentos revelados pelos senadores durante as oitivas
mostravam que meu pai já havia morrido quando o negócio começou a ser discutido
com a Índia. Mas toda a operação de garantia da compra daquela vacina foi feita pelo
FIB Bank. Naquele momento, tudo começou a fazer sentido para mim: entendi por que
eles não queriam resolver o inventário do meu pai. Mexer naquelas empresas
significaria alterar toda uma estrutura societária e revelar o que até então estava
escondido: Tolentino, apesar de ser o dono do grupo de empresas, não tinha seu nome
oficialmente vinculado a nenhuma delas. Esse era o papel do meu pai. Tolentino não
tinha a menor intenção de aparecer como dono dessas firmas. Por isso, solucionar o
meu problema seria, automaticamente, criar um problema para ele.


Em meados de julho de 2021, conforme as coisas iam ficando mais claras para mim, eu
procurava Renato Nunes, o auxiliar que fora designado para cuidar do meu caso.
Passou semanas me dizendo que não podia ajudar naquele momento porque Tolentino
estava muito debilitado recuperando-se das sequelas da Covid. Ele, de fato, tivera um
quadro grave da doença, mas sua recuperação não foi tão longa quanto diziam. Numa
das vezes em que ouvi que ele estava em fase de reabilitação, fui surpreendido naquela
mesma tarde com o noticiário mostrando Tolentino ao lado do presidente Jair
Bolsonaro num evento no Palácio do Planalto. Eu sabia das conexões políticas entre
eles. Mas fiquei indignado com a mentira.


No dia 24 de julho, a piauí me procurou quando estava fazendo uma reportagem sobre
o FIB Bank. Relatei isso ao Renato Nunes. Ele me orientou a não falar com a revista e
disse que, se eu me expusesse, seria chamado a depor na CPI, algo que eu
absolutamente não desejava. Questionei por que eu estava sendo procurado por
jornalistas e ele me escreveu a seguinte mensagem: “Foi emitida uma carta em um
negócio que não se concretizou, num período que o Marcos estava em coma. Mas como

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