® Piauí ed. 185 [Riva] (2022-02)

(EriveltonMoraes) #1

ex-colegas já estavam desenvolvendo uma vacina contra o coronavírus no instituto).
Em 2018, ela foi contratada pela BioNTech e, por ter formação como virologista, sem
qualquer especialização em câncer – foco principal das pesquisas do laboratório –, ficou
encarregada de conduzir o estudo toxicológico do projeto em parceria com a Pfizer
para uma vacina contra a gripe. Esse processo de seis meses tinha acabado de começar
quando Claudia foi informada do projeto relativo ao coronavírus e do pedido do PEI.


Ela sabia que, dessa vez, “o toxicológico” precisava ser concluído com uma
rapidez bem maior. Durante uma conversa com Uğur Şahin – fundador da BioNTech,
ao lado de sua mulher, Özlem Türeci, ambos médicos – logo após a reunião de
fevereiro com a entidade reguladora, Claudia explicou que, após analisar como
condensar cada etapa do estudo, tinha reduzido a duração para apenas três meses.
Uğur não ficou tão impressionado quanto ela esperava; ele queria iniciar os ensaios
clínicos dali a algumas semanas. “Vamos, Claudia, precisamos achar uma solução”,
disse.


Para encontrar essa solução, Claudia voltou à sua mesa em uma das filiais da
BioNTech, situada acima de uma antiga cervejaria, no centro medieval de Mainz, na
Alemanha. Lá, ela clicou no link de um relatório que descobrira dias antes, ao
pesquisar o seguinte no Google: Como desenvolver uma vacina durante uma pandemia?


O documento de 113 páginas, intitulado Diretrizes para a Qualidade, a Segurança e a
Eficácia das Vacinas contra o Ebola, fora elaborado mais de três anos antes por um comitê
de especialistas da Organização Mundial da Saúde (OMS) e tinha como foco principal
as vacinas desenvolvidas após a epidemia na África Ocidental, mas também incluía
princípios gerais para fabricantes de medicamentos que estivessem na corrida para
conter qualquer vírus em propagação desenfreada. Ainda impactada pelas palavras de
Uğur, Claudia começou a pesquisar como acelerar o estudo.


Ela achou um trecho crucial escondido na página 55. Os termos eram indecifráveis para
quem não fosse especialista, mas, em suma, a orientação dos autores para os órgãos
reguladores era a seguinte: durante uma emergência de saúde pública, os
desenvolvedores de medicamentos deveriam ter permissão para proceder ao ensaio de
fase 1 após compilarem um relatório provisório. Esse documento conteria os dados
coletados a partir da observação dos roedores e nos exames de sangue feitos pouco
depois da administração das vacinas, para demonstrar que a substância não havia
causado nenhum dano grave aos animais. Contudo, a parte mais demorada de um
estudo toxicológico – na qual os órgãos dos ratos são dissecados cuidadosamente para
o exame das amostras com microscópio – não precisaria estar concluída antes de ser
iniciado um ensaio com seres humanos. Se os testes mostrassem que as pequenas
cobaias estavam saudáveis logo após receberem a injeção, a BioNTech poderia iniciar

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