demanda extraordinariamente alta para os dispositivos de testes, os quais custariam
cerca de 50 mil euros cada. Disse ainda que, para além da questão de adquirir um
número suficiente das máquinas em falta, a BioNTech teria bastante dificuldade para
conseguir os cartuchos descartáveis necessários para a realização dos testes –
mercadoria cobiçada naquela ocasião. Mesmo assim, após confirmar que o
equipamento atendia aos padrões da Comissão de Ética, Christian encomendou quatro
desses dispositivos valiosos e todos os cartuchos que conseguiu. “Precisei pedir
desculpas à equipe de aquisições, porque é provável que eu tenha violado todas as
políticas deles”, conta. Não deu tempo de pesquisar os preços.
Uğur e Özlem estavam em casa quando o e-mail chegou, pouco antes das três
da tarde de 21 de abril, terça-feira. “PEI: o estudo pode ser iniciado” era o título da
mensagem encaminhada por Ruben Rizzi, chefe do departamento de questões
regulatórias na BioNTech. Uma resposta formal da agência alemã foi incluída na
mensagem e afirmava: “Os certificados e os resultados dos testes são adequados e,
portanto, atendem aos respectivos requisitos, conforme estabelecido na aprovação do
ensaio clínico.” Italiano enérgico, filho de um especialista em doenças infecciosas que
atendia pacientes graves com Covid-19 em um hospital lotado em Bergamo, Ruben
acrescentou acima da mensagem, em letras maiúsculas: PARABÉNS, PESSOAL.
Horas mais tarde, outro integrante da equipe respondeu à mensagem, com cópia para
todos, trazendo uma atualização. As máquinas de PCR da Bosch haviam chegado ao
principal local do ensaio clínico, em Mannheim. Os funcionários da BioNTech
responsáveis por estudar os manuais das máquinas tinham viajado até os locais para
treinar cada equipe. Um ensaio clínico com duzentos voluntários saudáveis entre 18 e
55 anos começaria em abril, conforme o cronograma de Uğur, sendo que indivíduos
mais velhos seriam incluídos 28 dias após o grupo mais jovem ter recebido duas doses
e ter sido monitorado. Uğur enviou essa informação aos colegas da Pfizer e comentou:
“Continuamos no prazo.”
A notícia foi recebida com certo alívio em Nova York, que estava prestes a se tornar o
centro global da pandemia do coronavírus. As unidades de terapia intensiva estavam
abarrotadas, e o som das sirenes servia de trilha sonora apocalíptica para os
profissionais do Projeto Light-speed alocados no arranha-céu da Pfizer em Manhattan.
Dezenas de necrotérios móveis tinham sido instalados na cidade, então os corpos eram