® Piauí ed. 185 [Riva] (2022-02)

(EriveltonMoraes) #1

quarto individual para cada um deles. Coisa rara. Depois do show, entregou a parte de
Oliveira em dinheiro vivo: 70 mil reais. Oliveira chamou João Neto e Frederico no seu
quarto, espalhou o dinheiro sobre a cama e disse: “Temos como opções pagar parte das
nossas dívidas com banco, iluminadores e empresa de ônibus. Ou podemos investir em
mais cópias de CDs piratas e fazer um álbum novo. Pensar que estamos ricos não é
uma alternativa.” A dupla gravou um DVD e, meses depois, fechou contrato com a
Som Livre, gravadora então ligada ao grupo Globo e que, por isso mesmo, tinha boas
chances de divulgação em programas de entretenimento da emissora.


Com o caixa engordando, Oliveira começou a diversificar seus negócios. Abriu uma
construtora, a Múltipla, cujo foco principal era construir prédios em Palmas, na capital
do Tocantins. Contratou uma consultoria para melhorar a WorkShow e começou a ler
livros de autoajuda financeira, como Pai Rico, Pai Pobre, best-seller norte-americano
sobre finanças, e Mentes Milionárias, outro do ramo, com incursões na neurociência.
Mas não perdeu o foco principal. Numa visita a Palmas, conheceu uma dupla que fazia
sucesso local, os irmãos Henrique e Juliano, hoje um fenômeno da música sertaneja.
Depois de algumas conversas e reuniões, fecharam contrato.


Só faltou combinar com os goianos. João Neto e Frederico detestaram a ideia da
contratação de outra dupla e sentiram-se preteridos. “Foi ciúme, não tem o que falar”,
diz Oliveira. Eles deixaram a WorkShow e, em 2015, moveram uma ação indenizatória
contra a empresa alegando que parte dos lucros que geravam era investida em outros
artistas. (Em 2019, o processo foi extinto. “Erramos, pedimos perdão e está tudo certo
conosco”, diz Frederico. Ele e João Neto voltaram a ser agenciados pela Work-Show em
2020.)


Em 2008, a WorkShow estava em ascensão. Ocupava um sobrado, tinha contrato


com três artistas e, no final de uma tarde qualquer, já perto das 17 horas, seu interfone
tocou. Era uma garotinha de 13 anos, que trazia umas canções escritas em um caderno
escolar e um violão debaixo do braço. A dupla João Neto e Frederico estava na empresa
e pediu para a menina cantar. Gostaram. “Ela era uma garota sem experiência de vida,
mas falava de amor, dor e traição como se tivesse passado por cinco divórcios”, diz
Frederico. Eles resolveram chamar Oliveira para escutar. “As letras eram boas e ruins
ao mesmo tempo: tudo muito bem escrito, mas longas e sem um refrão-chiclete”,

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