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O governo enviou soldados para ajudar
a sacrificar os rebanhos afetados. Seis
milhões de ovelhas, porcos e bois mor-
reram. Correram o mundo as cenas de
fazendas inglesas com grandes fogueiras
incinerando pilhas de animais mortos,
trazidos com escavadeiras. Ao final da
epidemia, pelo menos 60 fazendeiros
haviam se suicidado.
Uma das prioridades do NBAF será de-
senvolver um tratamento ou vacina para
a peste suína africana. Trata-se de uma
doença hemorrágica altamente conta-
giosa, que não infecta humanos mas
matou 25% de todos os porcos do mun-
do nos últimos anos. Os sintomas são
idênticos aos da cólera suína, que era o
décimo item na lista de armas biológicas
da Al Qaeda: vômitos, diarreia, febre e
coloração azul-arroxeada do focinho, do
rabo e das orelhas, tipicamente seguida
de uma morte rápida.
A peste suína africana ainda não foi
detectada nos Estados Unidos. Mas,
na China, o vírus infectou pelo menos
40% da população de porcos entre 2018
e 2019 – e o preço da carne suína mais
do que dobrou. Segundo uma investiga-
ção feita em 2019 pela Xinhua, a agência
de notícias estatal, grupos criminosos se
aproveitaram da epidemia. Em alguns
casos, eles usaram drones para jogar ra-
ção contaminada em fazendas que ainda
não haviam sido afetadas pela doença.
Assim que os animais eram infectados,
os bandidos se apresentavam como in-
teressados em comprá-los por um preço
muito baixo. Em seguida, os revendiam
em outra província. A reportagem afir-
ma que um grupo chegou a contrabande-
ar 4 mil animais infectados num único
dia, subornando fiscais e falsificando
certificados de quarentena.
Em resposta a isso, um fazendeiro
instalou um sistema antidrones – que
acabou afetando os sistemas de navega-
ção de aviões que passavam pela área.
A empresa Yangxiang, maior produtora
de carne de porco da China, construiu
um complexo de prédios para criar seus
animais em segurança [são quatro prédios,
com sete andares cada um, na região das
montanhas Yaji, no norte do país]. Cada
andar, com capacidade para 1.300 porcos,
tem um sistema independente de circula-
ção e desinfecção do ar. Os funcionários
vivem no complexo e tem de passar dois
dias em quarentena a cada vez que saem
e retornam. Um fazendeiro de Hunan,
no sul da China, disse ao New York Times
que os porcos se tornaram tão raros na
sua região que, quando ele transporta os
animais, junta gente em volta do cami-
nhão. “É como se eles estivessem vendo
um panda”, afirmou.
Cinquenta países, da Polônia às Filipi-
nas, já confirmaram casos da peste suína
africana em seus rebanhos. A Dinamar-
ca começou a construir uma cerca, para
evitar a passagem de porcos selvagens e
do vírus, em toda a sua fronteira com a
Alemanha. Na Austrália, cães farejadores
nos aeroportos cheiram todas as baga-
gens – para interceptar todo tipo de carne
de porco antes que ela entre no país. O
vírus sobrevive por meses em superfí-
cies e também na carne, mesmo cozida
e processada. “Só um país conseguiu
erradicar essa doença”, disse em 2019 o
ministro da agricultura da Austrália. Ele
estava se referindo à República Tcheca,
cujo programa durou quatro anos. “Eles
mandavam o Exército para as florestas,
noite após noite, para atirar em abso-
lutamente todos os porcos selvagens.”
38 super fevereiro 2022
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