Super Interessante (2022-02)

(EriveltonMoraes) #1
moleque, começou a tra-
balhar com quadrinhos.
Mas sua entrada do ramo
não foi exatamente por
mérito. Foi nepotismo
mesmo. Martin Good-
man, chefão da Timely
Comics (futura Marvel),
era casado com uma de
suas primas e deu um
emprego ao garoto.
Goodman estava lon-
ge de ser um visionário.
Empresário do ramo de
distribuição de revistas,
criava empresas de facha-
da para fugir de impostos
e prezava pela quantida-
de, e não qualidade, dos
seus produtos – se algo
estava fazendo sucesso,
bastava copiar. Com os
super-heróis, não foi di-
ferente. Em 1939, a Timely
lançou a HQ Marvel Co-
mics 1 com os primeiros
heróis da casa, Namor e
Tocha-Humana, e contra-
tou quadrinistas para de-
senvolver histórias para a
editora. Dentre eles, Jack
Kirby e Joe Simon, que
criaram o Capitão Amé-
rica, em 1940.
O primeiro cargo de
Stan por lá foi como as-
sistente de Joe Simon. Ele
fazia entregas, apagava
traços de lápis em artes
finalizadas, pegava café.
Quando as tarefas aca-
bavam, ficava tocando
flauta doce no escritório.

do ramo de quadrinhos. Não foi um
surto momentâneo, mas sim algo que
o acompanharia por toda a vida. “O en-
graçado é que eu nunca fui um leitor de
quadrinhos”, diria mais tarde, em 1999.
“Eu só escrevia.”
Nessa tentativa de virada profissional,
Lee tentou começar um negócio de li-
vros didáticos e fez trabalhos para rádios.
Enquanto isso, passou a supervisionar
cada vez mais os quadrinhos da Timely


  • e a escrever, de fato, cada vez menos.
    No final dos anos 1940, Goodman per-
    cebeu que valia mais a pena trabalhar
    com freelancers e mandou Stan demitir
    toda a redação.
    Em 1947, o quadrinista conheceu a
    modelo inglesa Joan Clayton Boocock.
    Eles se apaixonaram e casaram poucos
    meses depois. Dessa união, em 1950, nas-
    ceu Joan Celia (ou, como ficou conhecida,
    JC). O nome foi uma homenagem à mãe
    de Stan, que morreu três anos antes. O
    casal teve ainda uma segunda filha, Jan,
    mas que não sobreviveu ao dia do parto.
    Apesar das perdas, a família Lee teve
    uma vida estável nos anos 1950. Eles
    viviam numa casa espaçosa em Long
    Island, nos arredores de Nova York, e
    organizavam festas com frequência. Mas
    Stan seguia frustrado com o trabalho.
    E, verdade seja dita, o mercado tam-
    bém não colaborava. Naquela década, crí-
    ticos ao fenômeno das HQs diziam que


A virada veio num dia
qualquer de 1941. Simon,
sobrecarregado, passou a
Stan a tarefa de escrever
uma história curta para o
Capitão América. E ele ar-
rebentou. Lee teve a ideia
de o Capitão usar seu es-
cudo como bumerangue
(algo que desafia as leis
da física, mas que virou
a marca do herói). Na
hora de assinar, preferiu
a versão contraída de seu
nome: “Stan Lee”. E não
parou mais de escrever.
Enquanto o jovem da-
va seus primeiros passos,
Kirby e Simon estavam
revoltados com Good-
man: o chefe não tinha
dado a eles a porcentagem
de lucro prometida (25%)
das vendas dos gibis do
Capitão. Passaram, então,
a trabalhar escondidos pa-
ra a rival – a National.
Não tinha como dar
certo: a dupla logo foi
descoberta e demitida.
Bom para Lee, que, com
apenas 19 anos, assumiu
como editor da HQ e pas-
sou os meses seguintes
escrevendo diversas his-
tórias para a Timely.
Em 1942, durante a
Segunda Guerra Mundial,
Stan serviu o Exército
redigindo materiais edu-
cativos. Em 1945, voltou
para Nova York com uma
ideia surpreendente: sair

O Método
Marvel
de fazer
quadrinhos
agilizava
o trabalho
de Lee,
mas
ocultava as
funções de
roteirista
de Jack
Kirby e
outros ilus-
tradores.

54 super fevereiro 2022

stan sempre


tentou sair do


mercado de


quadrinhos.


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