ponta de uma agulha, os círculos abriam perspectivas vertiginosas. Parecia que
do meio das linhas do desenho iria sair a mão de alguém, um braço, uma
pessoa... Ottilia!, eu logo pensava. Mas me apressava em afastar da mente esse
pensamento. Era Corinna que eu tinha de seguir, não Ottilia, cuja imagem
bastava para que o alvo desaparecesse, como uma bolha de sabão.
Na segunda aula Corinna me disse:
— O arco dispara a flecha quando relaxa, mas para isso ele tem primeiro de
estar bem esticado. Se você quiser ser tão exato quanto um arco, tem de
aprender duas coisas: concentrar-se em si mesmo e deixar toda a tensão fora de
você.
Eu me contraía e relaxava como uma corda de arco. Fazia zvlann!, mas
depois fazia zvlinn! e zvlunn!, vibrava como uma harpa, as vibrações se
propagavam no ar, abriam parênteses de vazio, de onde os ventos tomavam
impulso. Entre os zvlinn! e os zvlunn!, uma rede se balançava. Eu subia em
espiral, ficava preso no espaço, e era Ottilia que eu via embalar-se na rede
entre os arpejos. Mas as vibrações se extinguiam. E eu despencava.
Na terceira aula Corinna me disse:
— Imagine que você é uma flecha e corra para o alvo.
Eu corria, fendia o ar, me convencia de ser parecido com uma flecha. Mas
as flechas com as quais eu me parecia eram flechas que se perdiam em todas as
direções menos na direção certa. Eu corria para apanhar as flechas caídas.
Penetrava em áreas desoladas e pedregosas. Era a minha imagem refletida por
um espelho? Era a lua?
Entre as pedras eu reencontrava minhas flechas rombudas, cravadas na
areia, tortas, despenadas. E ali no meio estava Ottilia. Passeava tranquila como
se estivesse num jardim, colhendo flores e caçando borboletas.
Eu — Por que você está aqui, Ottilia? Onde estamos? Na lua?
Ottilia — Estamos no avesso do alvo.
Eu — E todos os tiros perdidos terminam aqui?
Ottilia — Perdidos? Nenhum tiro é perdido.
Eu — Mas aqui as flechas não têm nada para atingir.
Ottilia — Aqui as flechas criam raízes e se transformam em florestas.
Eu — Só vejo cacos, gravetos, caliças.
Ottilia — Muitas caliças, umas em cima das outras, fazem um arranha-céu.
Muitos arranha-céus, uns em cima dos outros, fazem uma caliça.
Corinna — Fulgenzio! Onde você foi parar? O alvo!
Eu — Tenho de ir embora, Ottilia. Não posso ficar aqui com você. Tenho de
fazer pontaria na outra face do alvo...
Ottilia — Por quê?
Eu — Aqui tudo é irregular, opaco, disforme...
carla scalaejcves
(Carla ScalaEjcveS)
#1