têm braços ( faz mímicas como acima), e dez funções podiam ser executadas por
cegos. Um cego encarregado de contar os parafusos no depósito foi capaz de
fazer o trabalho de três operários de olhos saudáveis ( faz mímicas). É isso que
vocês chamam uniformidade? Eu digo que fiz todo o possível para que cada um
superasse os seus handicaps. Até os doentes nos meus hospitais podiam trabalhar
e ganhar seu dia. Estando de cama. Aparafusando as porcas nos pequenos
parafusos. Também servia para manter o moral. Curavam-se antes.
INTERLOCUTOR — Mas o trabalho na linha de montagem... Serem
obrigados a concentrar a atenção em movimentos repetitivos, segundo um
ritmo incessante, imposto pelas máquinas... O que pode ser mais mortificante
para o espírito criativo... para a mais elementar liberdade de dispor dos
movimentos do próprio corpo, do gasto da própria energia segundo o próprio
ritmo, a própria respiração... Fazer sempre uma única operação, um único
gesto, sempre do mesmo jeito... Não é uma perspectiva terrificante?
HENRY FORD — Para mim, é. Terrificante. Para mim seria inconcebível
fazer sempre a mesma coisa o dia inteiro, e um dia depois do outro. Mas não é
assim para todos. A imensa maioria dos homens não tem nenhum desejo de
fazer trabalhos criativos, de ter de pensar, decidir. Está disposta simplesmente a
fazer alguma coisa em que possa colocar o mínimo de esforço físico e mental. E
para essa esmagadora maioria o aspecto mecânico repetitivo, a participação
num trabalho já previsto nos mínimos detalhes assegura uma perfeita calma
interior. É verdade que não podem ser indivíduos irrequietos. O senhor é
irrequieto? Eu sou, muitíssimo. Pois bem, eu não o empregaria num trabalho de
rotina. Mas grande parte das atribuições numa grande indústria é rotina, e é
como rotina que elas são aceitas pela imensa maioria da mão de obra.
INTERLOCUTOR — São assim porque os senhores assim quiseram...
sejam as atribuições, sejam as pessoas...
HENRY FORD — Conseguimos organizar o trabalho de modo que fosse
mais fácil para quem devia fazê-lo, e mais rentável. Digo nós, os “criativos”, se
quer nos chamar assim, nós os irrequietos, nós que não temos paz enquanto não
encontramos a melhor maneira de fazer as coisas... Sabe como me veio a ideia
de levar a peça ao operário sem que ele precise se deslocar até a peça? Das
fábricas de carne enlatada de Chicago, vendo os bois esquartejados que
passavam pendurados em carrinhos, sobre trilhos elevados, para serem
salpicados de sal, cortados, retalhados, esmigalhados... Os bois esquartejados
que passavam, balançando... a nuvem de grãos de sal... as lâminas das facas,
zac, zac... e vi os chassis do “Ford T” correndo na altura das mãos dos operários
que apertavam os parafusos...
INTERLOCUTOR — A criatividade, portanto, é reservada a poucos... a
quem projeta... a quem decide...
HENRY FORD — Não! Ela se expande! Quantos eram os artistas, os
carla scalaejcves
(Carla ScalaEjcveS)
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