delinquência, o vício...
INTERLOCUTOR — E no entanto, Detroit... As massas que se
concentraram no Middle West para procurar emprego nos estabelecimentos
Ford...
HENRY FORD — É verdade, só eu conseguia dar salários elevados e
aumentos constantes, numa época em que nenhum industrial queria ouvir falar
disso... Foi duro sustentar e impor a todo o mundo econômico americano a
minha ideia de que são os salários mais altos que movimentam o mercado, não
os lucros mais altos. E para dar salários altos é preciso economizar no sistema
de produção. É essa a única verdadeira economia que rende: economizar, não
para acumular, mas para aumentar os salários, isto é, o poder de compra, isto é,
a abundância. O segredo da abundância está num equilíbrio entre preços e
qualidade. É só na abundância, não na escassez, que se pode construir: isso, fui o
primeiro a entender. Se um capitalista trabalha com a esperança de um dia
viver de rendas, é um mau capitalista. Sempre pensei que não possuía nada meu,
mas que administrava meu patrimônio pondo os melhores meios de produção a
serviço dos outros.
INTERLOCUTOR — Mas os sindicatos viam as coisas de outra maneira.
E o senhor, durante anos, não quis saber dos sindicatos... Ainda em 1937
contratou turmas de lutadores e pugilistas profissionais para impedir as greves,
na base da força...
HENRY FORD — Havia agitadores que queriam criar conflitos entre a
Ford e os operários, conflitos que pela lógica não podiam subsistir. Eu havia
calculado tudo para que os interesses dos operários e os da empresa fossem os
mesmos! Eles chegavam com discursos que não tinham nada a ver com os meus
princípios e com os princípios que regem o código da natureza. Há uma moral
do trabalho, uma moral do serviço, que não pode ser perturbada, porque é uma
lei da natureza. A natureza diz: trabalhem!, prosperidade e felicidade só podem
ser alcançadas pelo trabalho honesto!
INTERLOCUTOR — Mas o que foi chamado de fordismo, ou pelo menos
as suas ideias sociais mais populares — o emprego estável, o salário garantido,
um certo grau de bem-estar —, deu origem a novas aspirações na mentalidade
dos operários. O senhor se dava conta disso, Mister Ford? Com uma massa
disforme e flutuante o senhor contribuiu para criar uma mão de obra que tinha
algo a defender, tinha dignidade e consciência do próprio valor, e que, portanto,
aspirava a segurança, garantias, força contratual, autonomia para decidir o
próprio destino. É o que se chama de um processo irreversível, que o seu
paternalismo não podia mais conter nem controlar...
HENRY FORD — Eu olho sempre o futuro, mas para simplificar, e não
para complicar as coisas. Inversamente, todos os que projetam o futuro
propõem reformas, parece que só querem complicar, complicar. São todos
carla scalaejcves
(Carla ScalaEjcveS)
#1