para não dirigir os jatos de água contra os militares. Acabaram segurando-as na
vertical, mas os jatos, com um longo esguicho, caíam em locais imprevistos; um
deles regou da cabeça aos pés o coronel Clelio Leontuomini, que também
prosseguia, empertigado e de olhos fechados.
Com aquela ducha, o coronel levou um susto e deu um grito:
— Inundação! Inundação! Mobilizem-se para os socorros! — Depois,
subitamente compreendeu e retomou o comando do regimento para fazê-lo sair
dos jardins públicos.
Mas ficara um pouco decepcionado. O grito “Inundação! Inundação!” traíra
uma de suas esperanças secretas, quase inconscientes: a de que de repente
ocorresse um cataclismo natural, sem vítimas mas perigoso, e mandasse para os
ares a parada, e que desse jeito o regimento se prodigalizasse em obras úteis à
população: construção de pontes, salvamentos. Só assim a sua consciência
ficaria novamente tranquila.
Saindo do jardim público, o regimento foi parar numa outra zona da cidade,
não a das largas avenidas onde estava combinado que ele desfilaria, mas num
bairro de ruas menores, mais apertadas e tortuosas. O coronel resolveu que iria
cortar caminho por essas ruelas, para chegarem à praça sem mais perda de
tempo.
Uma animação insólita reinava no bairro. Eletricistas, no alto de grandes
escadas, regulavam as lâmpadas dos postes e levantavam e abaixavam os fios
do telefone. Agrimensores da engenharia civil mediam as ruas com as fixas e os
metros em rolo. Gasistas, armados de picaretas, abriam grandes buracos no
calçamento. Colegiais em fila faziam um passeio. Pedreiros passavam-se tijolos
ao voo gritando: “Opa! Opa!”. Ciclistas, dando longos assobios, transportavam
escadas portáteis nas costas. E, em todas as janelas das casas, empregadas
empertigadas em cima dos peitoris torciam panos molhados em grandes baldes
e limpavam as vidraças.
Assim, o regimento devia continuar o desfile por aquelas ruas tortuosas,
abrindo caminho num emaranhado de fios de telefone, metros em rolo, escadas,
buracos no calçamento, grupos de alunas assanhadas, e pegando tijolos no ar,
“Opa! Opa! Opa!”, e se esquivando de panos molhados e baldes que criadas
emocionadas deixavam cair lá embaixo, do quarto andar.
O coronel Clelio Leontuomini teve de reconhecer que errara o caminho.
Montado no cavalo, inclinou-se para um passante e perguntou:
— Desculpe, sabe qual é o caminho mais curto até a praça principal?
O passante, um homenzinho de óculos, ficou pensando um pouco:
— É uma volta complicada; mas se o senhor deixar que eu o guie levo-o por
um pátio até a outra rua, e o senhor ganha pelo menos quinze minutos.
— Todo o regimento poderá passar por esse pátio? — perguntou o coronel.
carla scalaejcves
(Carla ScalaEjcveS)
#1